Uma das rãs mais pequenas do mundo ouve com a boca

Antes pensava-se que as rãs Gardiner, que vivem nas Seychelles, eram surdas. Descoberta pode ajudar a resolver alguns casos de surdez em humanos.

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Rãs Gardiner vivem nas Seychelles e estão em perigo de extinção AFP

Num estudo publicado na revista Proceedings of the Natural Academy of Sciences (PNAS), da Academia Americana de Ciências, os investigadores revelam que, embora não tenham ouvido médio nem tímpano, estas rãs usam a cavidade bucal para transmitir sinais sonoros ao cérebro.

Geralmente, as rãs não têm ouvido externo como os humanos, mas possuem um ouvido médio com tímpano, na parte externa da cabeça. Os tímpanos vibram com as ondas sonoras e a vibração é enviada para o ouvido interno e depois para o cérebro.

Até agora pensava-se que as rãs Gardiner não conseguiam ouvir sem um ouvido médio, porque 99,9% da onda sonora reflecte-se na superfície da pele. Mas não. Os cientistas expuseram estes pequenos animais – têm apenas um centímetro de comprimento – a gravações do coaxar de outras rãs. Instalaram sistemas de alta voz na floresta e reproduziram esses sons, aos quais os machos Gardiner responderam imediatamente.

Para perceber que partes do corpo é que permitiam aos anfíbios ouvir, fizeram radiografias e concluíram que a boca funciona como um amplificador da frequência dos sons, estimulado por pequenas membranas localizadas entre a cavidade bucal e o ouvido interno.

Justin Gerlach, do Fundo de Protecção da Natureza das Seychelles e membro da equipa de investigadores, disse à BBC que o barulho feito pelas rãs é um dos sons característicos da floresta. “É um grito muito alto e agudo”, explicou. Ao ouvirem este grito, os machos respondem. “Ou mudam de posição – eles podem movimentar-se para o local de onde vem o som – ou, muitas vezes, respondem à chamada”, disse o cientista.

"Esta combinação da [ressonância da] cavidade bucal e da cavidade óssea permite às rãs Gardiner perceber os sons sem utilizarem um ouvido médio", conclui o coordenador da investigação, Renaud Boistel, do Centro Nacional Francês para a Investigação Científica, citado pela BBC.

Boistel acredita que a descoberta deste novo mecanismo de audição pode ser aplicada na medicina, para ajudar a resolver determinados tipos de surdez em humanos.

As rãs Gardiner apenas vivem nas Seychelles, no meio do Oceano Índico, e são por isso uma das espécies de rãs mais isoladas do mundo. A espécie está classificada como em perigo devido à degradação do seu habitat por causa dos incêndios e de espécies invasoras, e também devido à prática da agricultura e do turismo. “A possível extinção destas rãs significaria a perda de 65 milhões de anos de evolução notável: não só por o seu sistema de audição ser invulgar, mas também por serem uma das espécies de rãs mais pequenas do mundo”, diz Gerlach.
 

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