Termómetro global vai subir mais de 2ºC mesmo com actuais promessas de acções

Planos climáticos de 146 países são insuficientes para evitar um aquecimento catastrófico mas ainda assim deixam ONU optimista.

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REUTERS/Daniel Munoz

As emissões globais de gases com efeito de estufa vão continuar a subir até 2030, a um ritmo menos acelerado do que até agora mas insuficiente para que os termómetros não aumentem mais de 2oC no futuro.

Um balanço das promessas apresentadas por uma centena e meia de países às Nações Unidas mostra que o esforço ainda está aquém do necessário, mas vai pelo menos desacelerar o crescimento da poluição climática e reduzir as emissões per capita.

A avaliação foi divulgada esta sexta-feira pela ONU e compreende os planos climáticos de 146 países, representando 86% das emissões mundiais de gases que estão a aquecer o planeta. Até 2030, espera-se um aumento da libertação de CO2 e outros compostos, que será de 37 a 52%, comparado com os níveis de 1990, ou de 11 a 22%, em relação a 2010.

Mas a subida será de 10 a 57% mais lenta do que foi nas últimas duas décadas. E as emissões per capita deverão cair até 9% em 2030, em comparação com 1990.

Apesar de ser preciso fazer mais, os resultados da avaliação são vistos como positivos pela ONU – que tinha solicitado a todos os países que dissessem, este ano, como poderiam contribuir, até 2030, para a luta contra as alterações climáticas. “Os governos de todos os cantos do mundo assinalaram, através dos seus INDC [intended nationally determined contributions] , que estão determinados em fazer a sua parte, de acordo com as suas circunstâncias e responsabilidades”, disse a secretária-executiva da Convenção Quadro das Nações Unidas para as Alterações Climáticas, Christiana Figueres, num comunicado.

O mais importante, segundo Figueres, é que o cenário para o médio prazo é agora melhor do que se imaginava antes. “Os INDC têm a capacidade de limitar o aumento da temperatura a cerca de 2,7oC, o que claramente não é suficiente mas está muito abaixo dos quatro, cinco ou mais graus de aquecimento antes previstos”, argumenta a porta-voz da ONU para o clima.

O relatório da ONU sustenta que, mesmo depois de 2030, é possível corrigir a trajectória de modo a cumprir a meta dos 2oC até 2100, fixada internacionalmente. Mas há um elevado nível de incerteza sobre os rumos do mundo no pós-2030.

As promessas individuais dos diversos países serão a base de um novo tratado internacional climático que deverá ser aprovado numa conferência das Nações Unidas em Paris, em Dezembro. Antes, a estratégia da ONU era a de fixar metas de redução de emissões e obrigar as nações a cumpri-las. Agora, são os países que dizem primeiro o que podem fazer, e a partir daí se constrói um caminho.

Os planos apresentados têm diferentes abordagens e diferentes datas. A União Europeia comprometeu-se legalmente a reduzir em 40% as suas emissões até 2030, em relação a 1990. Os Estados Unidos prometem uma diminuição de 26 a 28% até 2025, em relação a 2005. A China quer baixar as emissões por unidade do PIB em 60 a 65% até 2030 e, a partir daí, começar a reduzir as emissões em termos absolutos. O Brasil fala em 43% de CO2 a menos em 2030.

Embora a soma de todas as promessas ainda seja insuficiente, a abordagem “de baixo para cima” tem aproximado blocos de países que historicamente estavam em campos opostos nas negociações climáticas. Nações tanto industrializadas, como em desenvolvimento estão a assumir compromissos, ainda que maioritariamente voluntários. O acordo de Paris unirá todos estes esforços para 2030 e possivelmente fixará um mecanismo de revisão destes compromissos a cada cinco anos.

 

 

 

 

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