Quercus critica metas diferentes de reciclagem para os vários sistemas de resíduos
Novo Plano Estratégico para os Resíduos Sólidos Urbanos vai ser apresentado nesta quinta-feira à tarde.
“Temos a informação confirmada pelo secretário de Estado do Ambiente de que há intenção do Governo de colocar metas de reciclagem diferentes para diferentes sistemas de [gestão de] resíduos urbanos do país”, disse à Lusa Rui Berkemeier, da associação ambientalista.
“É uma injustiça a nível nacional [porque] os sistemas do litoral sempre receberam mais dinheiro e tiveram incentivos muito fortes ao nível da venda de energia produzida através da incineração, pagos pelos consumidores de eletricidade do resto do país, e sempre reciclaram pouco e agora vai lhes ser facilitada a vida e não vão ter de reciclar muito”, salientou.
A proposta para o Plano Estratégico dos Resíduos Sólidos Urbanos (PERSU) III, que estabelece metas até 2020, é apresentada aos agentes do sector nesta quinta-feira à tarde pelo ministro do Ambiente, Ordenamento do Território e Energia, Jorge Moreira da Silva.
Para os sistemas que já têm soluções de reciclagem, nomeadamente tratamento mecânico e biológico que permite reciclar muitos resíduos a partir do lixo indiferenciado, “essas metas apontam em alguns casos para valores de 80% de reciclagem e são muitas vezes sistemas rurais, onde a reciclagem é mais complicada”, segundo Rui Berkemeier.
Por outro lado, “os sistemas do litoral, como de Lisboa [Valorsul] e Porto [Lipor], têm metas muito mais baixas, da ordem dos 35% de reciclagem", inferior à meta comunitária estabelecida para Portugal, que é de 50%. Esta situação "não é aceitável para a Quercus”.
Para os ambientalistas, “devia ser nestas zonas de Lisboa e Porto que deveria haver um forte investimento em reciclagem”, mas “pelos vistos, não é isso que se pretende fazer”.
A Quercus aponta soluções alternativas que passam pela instalação nos sistemas de Lisboa e Porto de processos de triagem de resíduos e reciclagem a montante do incinerador. Esta opção, realçou Rui Berkemeier, “permitiria reciclar muito mais resíduos e aproveitar a capacidade existente na Valorsul e na Lipor para tratar os resíduos que sobravam das unidades de tratamento mecânico e biológico existentes à volta destes sistemas”.
“Teríamos mais reciclagem e menor investimento e aproveitamento mais completo das infraestruturas existentes no país”, resumiu o responsável da Quercus.
A associação chama ainda a atenção para o cálculo de produção de embalagens, considerando que “actualmente está errado” porque este tipo de resíduo que surge nos aterros, nos incineradores e nas estações de tratamento mecânico “é muito mais do que aquilo que é declarado pelas indústrias”.