Espécie invasora de caracol marinho está a colonizar ilha de Santa Maria
Esta espécie, de grande dimensões e que, apesar de ser um caracol marinho, "se move com uma relativa velocidade", está "a colonizar a costa de Santa Maria a uma velocidade assombrosa", revela Sérgio Ávila, do Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos da Universidade dos Açores.
"São cerca de 1,5 a 2 quilómetros por ano que ela se está a afastar relativamente ao ponto de introdução”, acrescenta o cientista, autor do estudo sobre o aparecimento nos Açores da espécie invasora Phorcus Sauciatus que foi recentemente publicado no Journal of Molluscan Studies, uma revista científica inglesa.
“O que este artigo tem de interessante é que é muito difícil, muito raro mesmo, a chegada de uma espécie invasora a uma ilha. Nós estamos a encontrar esta espécie em Santa Maria no estado inicial de colonização”, continua o biólogo, acrescentando que a espécie deverá ter chegado à ilha de Santa Maria entre 2008 e 2010, mas só terá sido identificada no Verão de 2013.
“A primeira vez que o avistámos no campo, encontrámos sete exemplares desta espécie, em Junho de 2013. Quando voltámos, em Novembro, encontrámos 24 ou 25 exemplares e, no Verão seguinte, em Junho de 2014, contabilizámos só num troço da costa, com cerca de 1,5 quilómetros de extensão, 686 exemplares”, explicou.
Estima-se que hoje sejam milhares os exemplares da espécie em Santa Maria e que cheguem rapidamente às restantes ilhas, que proporcionam um excelente habitat para esta espécie. “Pode demorar um ano, dois anos ou dez anos, mas vai chegar com toda a certeza e vai colonizar todas as ilhas. É um facto consumado, a espécie chegou, aclimatizou-se e está em franca expansão populacional”, garante o investigador.
A próxima fase do estudo será para apurar se a espécie que chegou a Santa Maria é proveniente da existente na Madeira ou da costa de Portugal continental. “Pode ter chegado a Santa Maria de duas maneiras: ou de forma natural, porque são espécies que conseguem estar na coluna de água cerca de 15 dias, em termos da distribuição das suas larvas, ou pode ter chegado de forma antrópica, ou seja, relacionada com eventuais âncoras que possam ter sido lançadas por iates”, disse.
Este espécie é um concorrente natural das lapas, porque ambas vivem entre marés. Por isso, o biólogo prevê um impacto negativo sobre a população das lapas, embora garanta que está fora de hipótese uma delapidação da espécie. “Em Inglaterra, estas espécies são extremamente abundantes, têm densidades bastante superiores àquelas que nós estamos a encontrar em Santa Maria e vivem lado a lado com as lapas e existem também outras espécies. A densidade populacional é maior e não obstante as águas serem mais frias do que as nossas, elas vivem lado a lado com as lapas”, assegura Sérgio Ávila.
O biólogo já enviou uma proposta ao Governo Regional dos Açores para que seja feito um estudo que verifique o impacto nas lapas bem como um estudo de viabilidade económica de burriés nos Açores que até agora têm um consumo residual. “Esta espécie é comestível, é consumida no continente em grandes quantidades e aqui nos Açores é também vendida nas grandes superfícies comerciais, mas é importada”, conclui.