Desflorestação da Amazónia aumentou 28% no último ano
Depois de quatro anos em queda, a destruição da floresta brasileira voltou a aumentar.
O ritmo de destruição da Amazónia tem vindo a cair desde 2004, ano em que desapareceram quase 28 mil quilómetros quadrados da mancha florestal. Nos últimos quatro anos, a área destruída foi sempre reduzindo, de tal forma que no ano passado caiu para um mínimo histórico: 4571 quilómetros quadrados, entre Agosto de 2011 e Julho de 2012.
Os dados deste ano foram revelados na quinta-feira pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), a agência brasileira que monitoriza a desflorestação da Amazónia a partir de imagens de satélite. E tal como aconteceu em 2012, os resultados foram conhecidos num momento em que os países signatários do Protocolo de Quioto se reúnem em Varsóvia, na Polónia, na conferência do Clima das Nações Unidas, para tentar alcançar um acordo sobre o aquecimento global em 2015.
Nos últimos anos, a diminuição da desflorestação tinha deixado o Brasil bem visto. O país parecia estar a fazer o trabalho de casa para reduzir as emissões de gases com efeito de estufa. A ministra do Meio Ambiente brasileira, Izabella Teixeira, classificou esta reviravolta como "inaceitável" mas não acredita que isso vá prejudicar a imagem do Brasil em Varsóvia.
"Não vai interferir nas negociações. O compromisso do Brasil é de carácter voluntário, não é como o de outros países que tinham de ter reduzido e não conseguiram", disse a ministra, citada pelo jornal brasileiro Folha de S. Paulo. E sublinhou: "Ainda assim, essa é a segunda menor taxa de desmatamento da história".
Em 2009, o Brasil assumiu o compromisso voluntário de reduzir em 36% o aumento das emissões de carbono até 2020, em comparação com o que seria expectável. O Governo contava com uma descida de 80% no nível de desflorestação para ajudar a cumprir essa meta.
Mas, em vez de descer, a taxa aumentou em quase todos os estados que compõem a chamada Amazónia Legal: Amazonas (7%), Maranhão (42%), Mato Grosso (52%), Pará (37%), Rondónia (21%), Roraima (49%). Por outro lado, diminuiu em Acre (35%), Amapá (59%) e Tocantins (17%).
O Pará tem a maior área desmatada, 2379 quilómetros quadrados, seguido pelo Mato Grosso, com 1149 quilómetros quadrados. São estados onde a área agrícola para o cultivo da soja tem avançado sobre a floresta.
"Tragédia anunciada"
A notícia não caiu bem aos ambientalistas. Segundo o Folha de S. Paulo, várias organizações não governamentais brasileiras já se manifestaram contra o que chamaram de “tragédia anunciada”.
"Todos os anos o Brasil chega aqui com os números recordes de queda do desmatamento e é aplaudido por outras delegações. Como [é que] eles vão fazer este ano sem essas boas notícias?", questiona Carlos Rittl, secretário-executivo do Observatório do Clima, que participa nas discussões em Varsóvia.
"A redução do desmatamento era a única coisa concreta que o Brasil havia feito para reduzir as emissões. Todos os outros sectores, especialmente o de energia, tiveram uma grande alta", avalia André Ferretti, coordenador de estratégia da Fundação Boticário, também presente na Polónia.
Os ambientalistas atribuem o aumento da desflorestação às novas regras do Código Florestal, consideradas pelos activistas como um retrocesso, ao reduzirem as áreas protegidas e "perdoarem" os proprietários que tinham abatido árvores em áreas reservadas antes de 2008.
Márcio Astrini, coordenador da campanha de protecção da Amazónia da organização ecologista Greenpeace, disse ao Folha de S. Paulo que os números não surpreendem. "Todos os sistemas [de monitorização] davam indicação disso."
Já em Abril, o DETER, sistema do INPE que dá imagens mais imediatas ao longo do ano, apontava para um aumento da desflorestação da Amazónia entre 1 de Agosto de 2012 e 28 de Fevereiro de 2013 na ordem dos 26%, em comparação com o período homólogo anterior.
Notícia corrigida às 12h36: corrige número de campos de futebol equivalentes à área florestal destruída