Uma Europa a três velocidades
Os candidatos às europeias têm sido acusados de não discutir a Europa. Eis um tema pertinente.
Os dados publicados pelo gabinete de estatísticas da União Europeia mostram cada vez mais uma Europa com a Alemanha ao leme, um amontoado de países a tentar, com dificuldade, acompanhar o ritmo e um outro que vai ficando para trás e com indicadores de riqueza e de bem-estar cada vez mais divergentes. Portugal faz parte deste último grupo.
Os números de ontem do Eurostat mostram que Portugal é o único país da região que tem registado uma descida constante da taxa de emprego na última década. Em 2002 essa taxa era de 74,1% e no ano passado esse valor já tinha caído para 65,6%, cada vez mais longe do objectivo definido para a região de chegar a 2020 com uma taxa de 75%. O país que já atingiu e até superou esse objectivo é a Alemanha (77,1%), que, a par da Suécia, lidera o pelotão dos países onde as taxas de emprego entre os 20 e os 64 anos são mais elevadas. E não têm parado de crescer na última década.
O relatório do Eurostat mostra ainda um fosso cada vez maior entre os mais ricos da Europa e os periféricos. Se em 2010, a diferença entre a taxa de emprego mais alta e mais baixa era de 19,4 pontos percentuais, em 2013 esse gap já era de 26,6 pontos (a diferença entre os 79,8% da Suécia e os 53,2% da Grécia).
A economia grega, de resto, padece de um problema semelhante ao português. A crise destruiu trabalho em sectores intensivos em mão-de-obra, como por exemplo a construção, mas as reformas estruturais não foram suficientes para espevitar o emprego noutras áreas, nomeadamente de bens transaccionáveis. Aliás, basta olhar para os números de Abril para se concluir que dos cerca de 570 mil desempregados registados nos centros de emprego do continente, a grande maioria (64,2%) tinha trabalhado anteriormente no sector dos serviços, com destaque para as actividades imobiliárias.