Ulrich: “A troika chegou e foi por caminhos que não entendo”

Para o banqueiro do BPI o código laboral devia ser mais liberal, mas os despedimentos mais caros e o salário minimo muito mais alto.

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Fernando Ulrich, presidente executivo do BPI Ricardo Brito

O banqueiro falava, esta tarde, numa conferência de imprensa de apresentação das contas dos primeiros três meses do ano, período em que o BPI revelou um prejuízo de 104,8 milhões de euros (em 2013 registou um lucro de 40,5 milhões), em resultado das "menos valias extraordinárias da venda de dívida pública portuguesa e italiana de médio e longo prazo” que chegaram aos 102 milhões após impostos.

Até Portugal pedir ajuda externa “sempre defendi que a legislação laboral devia ser dual e resultar da evolução natural, “da negociação em concertação social”, mas também se devia ter “coragem para criar um código de trabalho muito mais liberal”, evocou Fernando Ulrich. E explicou que, do seu ponto de vista, o salário mínimo deveria ser muito mais elevado e os despedimentos muito mais caros.” Por isso, declarou, "discordo do embaretecimento dos despedimentos defendidos pela troika". 

O presidente do BPI garantiu ainda que a meta de redução de 400 trabalhadores que foi negociada entre a instituição e as autoridades nacionais e a Direcção Geral da Concorrência Europeia [DGCOMP], no quadro da ajuda pública, está a ser cumprida. O objectivo, assegurou, não envolverá despedimentos, mas continuará a seguir a via das reformas, designadamente, antecipadas. 

Em 2012, quando o BPI recebeu um empréstimo de 1,5 mil milhões de euros em obrigações subordinadas de conversão contingente subscritas pelo Estado português (CoCos), Ulrich comprometeu-se em reduzir até 2015 o quadro de efectivos de 6400 para 6000. No final de 2013, o banco tinha 6274 colaboradores e vai dispensar até Dezembro mais 19.

“Choca-me que, numa altura em que a taxa de desemprego é tão elevada, que a contrapartida da ajuda pública aos bancos seja a redução de custos com redução de efectivos”, observou Ulrich. 

“Defendi ao longo dos últimos anos que uma entidade com capacidade para incorporar pessoas, mesmo que em excesso face às suas necessidades, devia ser chamada a fazê-lo”. E, em seu entender, o Estado deveria apoiar “suportando parte do custo”. Trata-se, notou, da “responsabilidade pública de instituições com capacidade” para empregar gente em excesso. 

“Parecia-me preferível que a contrapartida dos empréstimos estatais à banca não fosse destruir emprego, mas criar emprego”, adiantou Ulrich.

O BPI comunicou ao mercado que pediu autorização às autoridades para antecipar o pagamento do remanescente (420 milhões) do empréstimo público de CoCos. Em 2012 o banco foi à linha de recapitalização pública financiar-se em 1,5 mil milhões de euros. 

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