Transportes públicos a meio gás na quarta greve geral da CGTP e da UGT

CP, Metro de Lisboa e Transtejo sem serviços mínimos. Metro do Porto e STCP com operação reduzida.

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Greve geral de 27 de Junho vai parar ligaçoes fluviais entre Lisboa e a Margem Sul e afecta transportes públicos em todo o país Rui Gaudêncio

Não há serviços mínimos definidos para a CP, Metro de Lisboa, Transtejo e Soflusa. Por isso, as empresas avisaram os clientes de que será difícil chegar ao trabalho através destas redes de transportes. No Porto, a STCP garante serviços mínimos e no metro a circulação será “bastante” afectada (veja em baixo que transportes estão assegurados).

Esta é a quarta vez, desde o 25 de Abril, que a CGTP e a UGT se juntam em greve geral. É ainda a segunda que o actual primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, enfrenta. Aliás, é o primeiro governante da democracia a enfrentar duas greves gerais convocadas pelas duas centrais sindicais.

“Não o fazemos de bom grado. Queremos manter as portas abertas à negociação, mas importa que o Governo perceba que uma negociação não é uma imposição”, disse Carlos Silva, secretário-geral da UGT, no dia em que anunciou a adesão. A UGT tem encontrado no executivo “um muro intransponível de intransigência” que motivou a “convergência” entre sindicatos. Em causa está a defesa da dignidade dos trabalhadores, dos reformados e pensionistas e dos jovens, sustenta.

Para a CGTP a greve geral de 27 de Junho é “para todos e para todas e também para mudar de política, de governo e promover eleições antecipadas”. O secretário-geral da intersindical, Arménio Carlos, antecipa para quinta-feira uma “grande adesão”. “Esta luta ainda vai ser mais importante do que as anteriores, porque o Governo vai ficar ainda mais fragilizado do que está. As sondagens estão aí para demonstrá-lo”, afirmou terça-feira, durante um plenário de trabalhadores dos serviços municipalizados.

A paralisação deverá afectar a circulação dos transportes públicos, sobretudo os que são assegurados por empresas detidas pelo Estado.

Comboios
Circular de comboio não vai ser tarefa fácil. O serviço da CP vai parar totalmente quinta-feira, já que não foram definidos serviços mínimos pelo tribunal arbitral, nomeado pelo Conselho Económico e Social. As dificuldades começam já nesta quarta-feira ao final do dia, com atrasos e supressões nos serviços urbanos, regional e inter-regional, e prolongam-se até à manhã de 28 de Junho.

No serviço internacional, haverá transbordo rodoviário nos comboios Sud Expresso e Lusitânia Comboio Hotel: entre Vilar Formoso e Lisboa (comboios 313/332 que partem de Irun e Madrid, respectivamente, durante o dia de hoje); entre Lisboa e Vilar Formoso (comboios 310/335 com partida de Lisboa dia 27 de Junho). Para mais informações sobre as últimas circulações no dia 26 e nas primeiras de 28 de Junho consulte aqui o site da CP. A empresa alerta: não há transportes alternativos.

Nas ligações da Margem Sul a Lisboa, a Fertagus garante que reúne “todas as condições para o normal funcionamento da sua actividade, desde que sejam garantidas pela Refer as normais condições de circulação”.

Autocarros
A transportada lisboeta Carris garante serviços mínimos para algumas das carreiras. Estarão a funcionar, a 50% do regime normal, os autocarros 703, 708, 735, 736, 738 742, 751, 755, 758, 760, 767 e 781. Também está assegurado o transporte exclusivo de deficientes. A Carris prevê “alguma perturbação no serviço regular”.

No Porto, a greve geral terá efeitos na rede da STCP já a partir desta quarta-feira, às 23h, prolongando-se as dificuldades até às duas da manhã do dia 28. Contudo, há serviços mínimos a garantir mais de 28 percursos na cidade.

A rede de transportes gerida pela Barraqueiro (assegura, por exemplo, as ligações entre Lisboa e Torres Vedras ou Lourinhã) não deverá sofrer grandes perturbações. De acordo com a empresa não há, geralmente, grande adesão à greve.

O mesmo cenário se passa na Arriva, transportadora que oferece, entre muitas outras, ligações em Guimarães, Fafe ou Famalicão. “Tirando os delegados sindicais, normalmente não há muita adesão à greve”, diz a empresa.

Barcos
As ligações fluviais entre Lisboa, Cacilhas, Trafaria, Barreiro, Seixal e Montijo vão estar totalmente interrompidas no dia da greve geral. As últimas ligações do grupo Transtejo acontecem nesta quarta-feira às 23h nos percursos Barreiro-Terreiro do Paço e Terreiro do Paço-Barreiro. No dia 28 de Junho, as primeiras ligações acontecem logo às 0h30 (Barreiro-Terreiro do Paço) e à uma da manhã (Terreiro do Paço-Barreiro). A empresa avisa que por questões de segurança os terminais e estações estarão encerrados.

Metro
Sem fixação de serviços mínimos pelo tribunal, o Metro de Lisboa não vai ter transporte entre as 23h20 desta quarta-feira e a 1h de 28 de Junho, sexta-feira. “Está previsto que a normalização do serviço ocorra a partir das 6h30 de dia 28”, assegura a empresa, num comunicado divulgado no site oficial. Nessa informação aos utentes, o conselho de administração tece críticas à greve geral e “lamenta profundamente todas as perturbações causadas pelos sindicados aos clientes e à cidade”.

Já a Metro Transportes do Sul prevê assegurar, pelo menos, 50% das circulações no horário normal.

A norte, espera-se circulação reduzida no metro do Porto, que funcionará entre as 7h e as 21h (em vez das 6h à 1h). Está apenas assegurada a circulação na Linha Amarela entre o Hospital de S. João e Santo Ovídio, em Gaia, entre a estação da Senhora da Hora e a estação do Estádio do Dragão, no tronco comum às linhas Azul (A), Vermelha (B), Verde (C), Violeta (E) e Laranja (F). “Não estará disponível o serviço comercial a norte da Estação da Senhora da Hora", esclarece a empresa. Não há, por isso, “ligação à Estação Senhor de Matosinhos, Póvoa de Varzim, Verde, ISMAI e Aeroporto”.

Transporte aéreo
Com a paralisação de quinta-feira, a ANA, Aeroportos de Portugal também há veio avisar que o tráfego aéreo poderá ser afectado e recomenda a confirmação dos voos junto das companhias aéreas, "seus representantes locais ou agentes de viagens antes da deslocação aos aeroportos".

Leis laborais uniram protesto das centrais sindicais no passado
A primeira vez que a UGT e a CGTP se juntaram para protestar contra medidas do Governo foi a 28 de Março de 1988, com Cavaco Silva como primeiro-ministro a querer aprovar leis laborais que eram vistas por Carvalho da Silva, então coordenador da CGTP, como um meio para “precarizar em absoluto o emprego”.

Torres Couto, secretário-geral da UGT, foi o primeiro a marcar a greve, em protesto contra leis que iriam “humilhar, vergar e amestrar os trabalhadores”. A paralisação deixou o país a meio gás. Os sindicatos falaram em “sucesso esmagador” e uma adesão de 80%. Cavaco Silva preferiu desvalorizar o acontecimento. “Se há greve, eu não notei. Se é greve geral, muito menos. Nem tão-pouco parcial. Eu diria, quanto muito, parcialíssima”, disse.

Foram precisos 22 anos e uma dura dose de austeridade para que as duas centrais sindicais se voltassem a juntar numa paralisação. A 24 de Novembro de 2010, o terceiro pacote de ajustamento orçamental, que incluía cortes salariais entre 3,5% e 10% na função pública, aumento de descontos para a Caixa Geral de Aposentações e o congelamento de progressões e promoções, esteve na base do protesto.

Um ano depois, as duas centrais sindicais organizaram o terceiro protesto conjunto desde a criação da UGT em 1978. A data escolhida foi a mesma, 24 de Novembro, mas sem simbolismo especial. Calhou ser este o primeiro dia da votação na especialidade do Orçamento do Estado. Tal como sucedeu com a greve geral que se cumpre esta quinta-feira, CGTP e UGT anunciaram a paralisação conjunta em duas conferências de imprensa separadas.
 
 

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