Trabalhadores de call centers criam sindicato para dignificar profissão

Nova organização não pertence às estruturas da CGTP ou UGT, que alertam para o perigo de proliferação de sindicatos.

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Novo sindicato espera mobilizar entre 50 a 60 pessoas na primeira reunião em Lisboa, dia 26 de Abril Vitor Cid

Pedro Fortunato, um dos elementos que estiveram na origem do novo grupo, conta ao PÚBLICO que tudo começou há um ano com a elaboração de um boletim distribuído nas empresas. O Tás Logado (expressão usada nos call centers para questionar se o trabalhador está pronto para iniciar o trabalho) abordava a criação de um sindicato único e questões relacionadas com a saúde e condições laborais. “Foi criado por um pequeno grupo de pessoas que tiveram más experiências com representantes sindicais nas empresas e acharam que era necessário um outro sindicato. Criámos o boletim e a adesão foi muito grande”, afirma.

Actualmente não há uma única estrutura que represente este sector. Tanto a CGTP, como a UGT têm sindicatos de diversas áreas profissionais (comunicações, banca, serviços), mas admitem que não é fácil “recrutar” sócios nos call centers. Os contratos de trabalho são temporários e, por isso, a rotatividade é elevada, explica Manuel Guerreiro, presidente do Sindicato dos Trabalhadores do Comércio, Escritórios e Serviços. Vítor Narciso, dirigente da Federação dos Sindicatos de Transportes e Comunicações (Fectrans), exemplifica que, tendo em conta a curta duração dos contratos laborais, numa altura podem ter 100 associados e meses depois perderem 30.

O dirigente da Fectrans diz ainda que angariar sócios é difícil quando os trabalhadores têm todo o tempo controlado. “Não podem ausentar-se. Quando vão à casa de banho, têm de pedir licença e o tempo é descontado. Normalmente há um pequeno bar e é aí que falamos com os trabalhadores ou à porta das empresas”, descreve.

A questão do “enquadramento dos call centers nas organizações sindicais está a ser discutida em Portugal e na Europa”, continua. Questionado sobre a criação de uma nova organização, Vítor Narciso avisa: “Pode ser negativo e positivo. Já há sindicatos que representam estes trabalhadores e [a criação de um novo] pode criar divisões. Mas, por outro lado, as pessoas podem identificar-se mais com esta organização.” O que tem de existir, defende, “é uma colaboração entre todos os sindicatos que representam os call centers”.

Paulo Alexandre, dirigente da Federação do Sector Financeiro (Febase), da UGT, esclarece que a organização representa todos os trabalhadores da banca, incluindo quem trabalha nos centros de contacto. Defende que os actuais sindicatos “podem perfeitamente” ser a voz desta classe profissional, nomeadamente as estruturas dos escritórios e serviços. “Poderiam e deveriam enquadrar estes trabalhadores, porque não é bom a proliferação dos sindicatos. Os trabalhadores só perdem com isso”, defende.

Mudanças reais
Pedro Fortunato tem outra visão. “As pessoas não vêem que o facto de pagarem uma quota lhes vá servir para alguma coisa. Trabalhar no call center é uma ditadura em que os trabalhadores, por vezes, são proibidos de ir à casa e banho e as direcções sindicais não fazem nada. Só aparecem no Dia da Mulher para oferecer uma flor ou quando há eleições”, critica. 

Para já, a adesão a uma central sindical já estabelecida não está em cima da mesa, mas o cenário pode vir a ser uma realidade mais tarde. “Neste momento queremos legalizar o sindicato e conseguir reais mudanças nos call centers”, sublinha.

A nova organização diz que é preciso outra voz dentro das empresas que alerte para a falta de condições de segurança. Pedro Fortunato afirma, por exemplo, que nem sempre há lugares disponíveis para todos os trabalhadores se sentarem, ou que os headsets (auscultadores com microfone incorporado) não funcionam. Proliferam doenças específicas “que incidem na garganta ou nos ouvidos” e, por isso, esta deve ser considerada uma profissão de risco, “como se passa no Brasil ou em Itália”.

Hoje fazer carreira num call center já é uma realidade para milhares de pessoas, mas a “rotatividade” é a regra. “São contratos de seis meses a um ano. Depois vão-se embora e fazem novo contrato noutra empresa. Quando se chega aos cinco ou seis anos de profissão, começa a ser mais fácil encontrar trabalho, mas não é reconhecido. Não tem estatuto, nem progressão de carreira”, lamenta Pedro Fortunato.

O novo sindicato espera mobilizar entre 50 a 60 pessoas na primeira reunião, que se realiza às 15h de sábado, 26 de Abril, no Ateneu de Lisboa. “Tendo em conta o feedback que temos sentido, rapidamente chegaremos aos três dígitos ou até aos quatro dígitos”, garante.

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