Tensão entre polícia e trabalhadores dos CTT durante piquete de greve
Corpo de intervenção da PSP forçou elementos do piquete de greve a abrir caminho à saída de camiões. Secretário-geral da CGTP e deputados contestam empurrões.
Arménio Carlos e os deputados Bruno Dias (PCP) e Pedro Filipe Soares (Bloco de Esquerda), ali presentes, estiveram entre os que foram empurrados. Enquanto alguns polícias formavam um cordão de segurança que, aos poucos, ia empurrando o grupo do piquete de greve, o secretário-geral da CGTP apelava: “Tenham calma, ponham-se lá no vosso sentido. Qual é o problema de segurança aqui, pá? Não se virem contra aqueles que estão do vosso lado, pá. Virem-se contra aqueles que estão do outro lado, que vos exploram, que vos cortam os salários, pá. As pensões, pá. Ainda não perceberam isso?”.
Nesse momento de agitação, a polícia conseguiu abrir espaço suficiente para os camiões ali parados seguirem a marcha. A intervenção policial dividiu-se em cerca de 20 efectivos à porta das instalações dos CTT e outros tantos, do outro lado da estrada, a confinar os manifestantes, que em piquete de greve protestavam contra a privatização da empresa.
Os deputados ali presentes insurgiram-se por a polícia os pretender confinar os elementos do piquete a um lado da estrada, com Pedro Filipe Soares a dizer que vai levar a situação à Assembleia da República. Arménio Carlos condenou igualmente a acção policial, considerando-o um “acto de coarctar a liberdade”, apesar de responsabilizar “não a polícia, mas o Ministério [da Administração Interna] e o Governo”.
Bruno Dias disse à agência Lusa que “o piquete de greve foi impedido de exercer as suas funções” e considerou “inaceitável que [os polícias] digam que estão a garantir a circulação do trânsito”.
No mesmo sentido, Pedro Filipe Soares condenou o que considerou ser um “uso abusivo de força” pela polícia, ao “empurrar [os manifestantes] para o outro lado da estrada” e que “o piquete de greve estava a defender os postos de trabalho”. O deputado do Bloco de Esquerda acusou as forças da autoridade de estarem "a ir contra a lei", considerando que "não há justificação para o que está a acontecer” e acusou-as de estarem “a defender apenas os accionistas, não o interesse nacional”.
Cerca da 0h20, a polícia de intervenção retirou-se, permanecendo um cordão policial à porta da saída dos camiões, sem movimento de entrada e saídas. Depois deste momento de tensão, os deputados e o secretário-geral da CGTP continuaram no local, onde alguns manifestantes erguiam alguns cartazes de protesto como “Tirem-me deste filme”, “CTT 500 anos de história não se vendem” e “Não há que vender. Vendam o senhor engenheiro”.
Num comunicado sobre a adesão à greve desta sexta-feira, o Sindicato Nacional dos Trabalhadores dos Correios e Telecomunicações (SNTCT) considerou a actuação do corpo de intervenção da PSP como “vergonhosa”, dizendo que os elementos da PSP foram ali chamados “para atacar de forma indecorosa e brutal os componentes do piquete” de greve.
Segundo o SNTCT, afecto à CGTP, a adesão à greve no turno da noite foi de 83% em Lisboa, Porto e Coimbra.
Nesta jornada de protesto, está agendado para as 14h30 um plenário de trabalhadores a realizar na Praça dos Restauradores, em Lisboa, com o objectivo de decidir a continuação de acções de luta contra a privatização da empresa, seguindo os trabalhadores em manifestação junto ao Ministério das Finanças, a partir das 15h30.