TAP estima prejuízos de 70 milhões de euros com greve dos pilotos
Governo lamenta decisão do sindicato e fecha a porta a negociações.
Além da perda de receitas, a transportadora aérea terá ainda elevados custos com a reprogramação dos voos, o fretamento de aviões e de tripulações a terceiros e, sobretudo, com a assistência a passageiros. Isto depois de 2014 ter sido já um ano recorde de protestos, que abalou os resultados, culminando em prejuízos de 46,4 milhões de euros. No grupo TAP, que inclui outros negócios além da aviação, as perdas alcançaram 85,1 milhões.
A decisão dos pilotos foi conhecida na quarta-feira, ao início da noite, e prevê a realização de uma greve entre 1 e 10 de Maio. O Sindicato dos Pilotos da Aviação Civil (SPAC) reclama a devolução das diuturnidades suspensas desde 2011 e uma fatia no capital da TAP.
Apesar de o sindicato ter deixado uma porta aberta à possibilidade de cancelamento da paralisação, esse cenário parece longínquo, já que o Governo não tem margem para satisfazer as pretensões dos pilotos.
Foi isso mesmo que o ministro da Economia deixou claro nesta quarta-feira, em entrevista à RTP1. Pires de Lima frisou que o executivo está disposto a cumprir apenas os pontos do acordo selado em Dezembro com nove sindicatos, que levou ao cancelamento de uma greve de quatro dias entre o Natal e o Ano Novo.
Mas esse acordo, assinado também pelo SPAC, não previa nenhuma das reivindicações que os pilotos agora fazem. "É evidente que estou surpreendido. Não esperávamos esta posição do sindicato dos pilotos, que contraria aquilo que foi escrito e assinado pelos representantes dos sindicatos dos pilotos na última semana de 2014”, referiu o ministro, citado pela agência Lusa.
Também o primeiro-ministro reagiu à decisão do SPAC, afirmando que lamenta “profundamente esta situação”. Passos Coelho rejeitou comentar se o Governo pretende avançar para uma requisição civil, como aconteceu perante a greve de Dezembro, mas deixou transparecer que será improvável que dê este passo.
A requisição civil só pode ser aprovada “em circunstâncias muito excepcionais”, como fez questão de frisar, citado pela Lusa. E, se a paralisação entre o Natal e o Ano Novo preenchia esses requisitos, mais difícil será justificar uma decisão tão musculada perante uma greve em Maio.
Passos Coelho disse esperar “que esteja ao alcance do sindicato dos pilotos poder repensar esta atitude”, já que a decisão dos pilotos pode ter “uma consequência perversa sobre o resultado que se espera” da privatização da TAP.
O Governo pretende vender 66% do grupo até ao final do primeiro semestre, mas, tal como em 2012, o desfecho é imprevisível. Ainda na quarta-feira, um dos investidores, os espanhóis da Globalia, anunciaram que desistiram da operação fruto da elevada dívida da TAP.