Sony vê mercado dos videojogos recuperar em Portugal
"A sensação que temos é a de que a economia já está a virar", diz James Armstrong, vice-presidente da Sony responsável pelo Sul da Europa. Vendas totais de consolas subiram 39% este ano.
“Não tenhamos dúvidas: a crise em Portugal e Espanha tem sido muito mais complicada do que na maioria dos outros países, com excepção da Itália, ou, pior ainda, da Grécia. Mas aqui já estamos melhor do que ano passado.” A avaliação é do vice-presidente da Sony Computer Entertainment responsável pelo sul da Europa, James Armstrong. “A sensação que temos é a de que a economia já está a virar. E estamos agradavelmente surpreendidos com o que está a acontecer em Portugal”, acrescenta, numa conversa com o PÚBLICO, dez meses após o lançamento da PlayStation 4 (PS4).
Apesar dos sinais positivos, a procura ainda está longe do que era. Entre Abril de 2014 e Março de 2015 (o ano fiscal da empresa), a Sony espera vender 550 mil PS4 na Península Ibérica. “Se tivéssemos os níveis de consumo que tínhamos em Espanha em 2009 e em Portugal em 2010 (cá, a crise chegou mais tarde), estaríamos a vender 750 mil unidades”, diz Armstrong.
Números da analista GfK Portugal mostram que os primeiros oito meses do ano ficaram ligeiramente aquém de 2013, no que diz respeito à procura de jogos para consolas. Foram vendidos 700 mil títulos, o que significou uma facturação de 20 milhões de euros, 5% abaixo do mesmo período do ano passado. Mas, sem surpresas, a chegada da PS4 no final do ano passado fez-se notar: entre Janeiro e Agosto, os consumidores compraram 69 mil consolas das várias marcas, no total de 18 milhões de euros – um aumento de 39% em relação a 2013.
Desde a estreia, em Novembro, a PS4 vendeu cerca de 45 mil unidades em Portugal, adianta Armstrong, que diz estar satisfeito com este desempenho. Já a antecessora, a PlayStation 3, que se mantém no mercado a um preço mais reduzido, excedeu as expectativas. “As vendas caíram, obviamente. Mas estão a correr bem. Vamos vender 160 mil unidades no mercado ibérico [ao longo do ano], das quais 21% ou 22% serão em Portugal. Estávamos à espera que a quebra de interesse na PS3 fosse maior”. No entanto, o interesse dos consumidores pelo modelo anterior é “de certa forma, um problema”, reconhece o responsável. “Quantas mais pessoas tivermos a comprar a PS3, mais dificuldades temos em vender o novo modelo”.
A PS4 é a aposta da Sony para a chamada oitava geração de consolas domésticas, que foi inaugurada em 2012 pela Nintendo Wii U, com maus resultados que duram até hoje e que têm contribuído para os prejuízos desta empresa nos anos recentes. Já este mês, chegou a Portugal a Xbox One, da Microsoft. Uma nova consola doméstica é sempre uma aposta de peso. Cada geração é concebida para estar no mercado durante vários anos e o lançamento de um novo modelo marca também um novo ciclo para o fabricante.
Para além da retracção do consumo, Microsoft, Nintendo e Sony têm enfrentado a concorrência dos jogos online, bem como de smartphones e tablets, para os quais proliferam jogos, gratuitos e pagos, criados por programadores desconhecidos e por grandes marcas. Entre os jogos disponíveis para estes aparelhos, estão títulos de grande popularidade, como é o caso da conhecida série Fifa.
Armstrong admite a concorrência dispositivos móveis. Mas argumenta que este fenómeno também tem efeitos positivos para empresas como a Sony. “Como resultado dos jogos móveis, há mais pessoas a jogar. Fizemos um estudo que diz que 84% da população na Península Ibérica [entre os 8 e os 40 anos] joga videojogos. Obviamente, uma grande parte joga nos dispositivos móveis ou no PC. Só 34% ou 35% jogam numa consola doméstica. Isto são boas notícias. Significa que há um mercado no qual podemos entrar”, diz.
Portugal é o “melhor mercado”
A Península Ibérica é um território importante para a Sony. Espanha é o terceiro maior mercado do mundo para a PlayStation, a seguir ao Japão e aos EUA. E Portugal é aquilo a que Armstrong chama “o melhor mercado” – é aqui que a Sony tem mais quota e onde acumula anos de liderança.
Parte do segredo, explica o executivo, foi a PlayStation ter-se conseguido posicionar como uma marca familiar. “Percebemos que os miúdos de 12 anos gostam dos mesmos jogos que os miúdos de 16 ou 19. O que fizemos foi tornar a PlayStation, e os jogos em geral, mais atractivos para as mães deles do que noutros países. Na Alemanha, os videojogos continuam a ser considerados como algo violento”. Isto levou a uma idade de utilizadores baixa por comparação com outros territórios. “O nosso principal alvo são os jogadores entre os 14 e os 24 anos. Mas em Portugal temos consideravelmente mais jogadores entre os 10 e os 14 do que noutros sítios.”