Soares da Costa vai despedir um em cada cinco trabalhadores da construtora
Redução de 500 efectivos afecta Portugal, Brasil, Angola e Moçambique e é justificada pelos prejuízos da empresa com a crise em Portugal e Angola.
A Soares da Costa confirmou oficialmente o que já se noticiava há vários meses, a realização de um despedimento colectivo. Mas a comunicação enviada à comissão de trabalhadores acaba por surpreender pela dimensão, já que envolverá 500 trabalhadores, um número que fica muito acima dos 270 colaboradores que há longos meses se encontravam em casa, a receber salário, e que já temiam este desfecho.
O despedimento corresponde a cerca de 20% do universo de 4500 efectivos daquela que chegou a ser a maior construtora portuguesa, e abrange outras geografias fora de Portugal, designadamente o Brasil, Angola e Moçambique.
Em declarações ao PÚBLICO, Joaquim Fitas, presidente da comissão executiva (CEO) da construtora, diz não conseguir adiantar como se repartem os números pelas diferentes geografias, mas lembra que nos outros países“ também estão em causa trabalhadores portugueses, que se encontram deslocados”.
O CEO, que admitiu que esta quarta-feira estava a ser um dos mais difíceis da sua vida, destaca que “o despedimento visa salvar 80% dos postos de trabalho da construtora, que tinha uma estrutura de colaboradores sobredimensionada para as condições de mercado e volume de negócios actuais”. A justificar a difícil situação da empresa, a administração destaca “a acumulação de prejuízos, na ordem dos 60 milhões de euros por ano”.
Em carta enviada à comissão de trabalhadores o despedimento é justificado com a "crise económica e financeira instalada em Portugal e Angola, principal mercado da construra, que "continua a ter repercussões nefastas" para a empresa.
Em declarações ao PÚBLICO, o CEO garante, no entanto, que a dimensão do despedimento se fica “a dever mais à situação interna da empresa do que à conjuntura nacional e à crise em Angola”, embora reconheça que estes factores também pesaram.
E explica que desde a entrada do empresário angolano António Mosquito na Soares da Costa, em 2013, estava previsto um despedimento colectivo, reconhecendo que o universo inicial coincide com o que foi sendo avançado pelo sindicato, mas lembra que a administração da construtora nunca assumiu oficialmente um número.
O aumento de capital de 70 milhões de euros, injectado pelo empresário angolano que há poucos dias pediu demissão do cargo de presidente não executivo, alegando razões pessoais, destinava-se a financiar o processo de reestruturação. Mas além de uma estrutura de pessoal totalmente desajustada, o gestor diz que o novo accionista, que assumiu uma posição de controlo de 66,7%, encontrou “os cofres vazios e o volume de negócios em queda”.
Joaquim Fitas esclarece que a demora na concretização do processo de despedimento se ficou a dever, para além da complexidade do processo, “à necessidade de reunir meios financeiros necessários”, e ainda a uma redefinição da estratégia da empresa, “actualmente centrada apenas na construção e numa estrutura de pessoal com menos trabalhadores directos e, consequentemente, mais indirectos”.
Numa altura em que de especula sobre uma eventual venda da participação de António Mosquito na Soares da Costa, na sequência da sua saída da presidência, Joaquim Fitas assegura que “os propósitos iniciais do empresário se mantêm”, e que são os de transformar a Soares da Costa “num grande empreiteiro em Portugal e na África Austral, a partir de Angola”.
Dentro desta estratégia, o gestor reafirma que “não há qualquer propósito da empresa sair do país” e refere que “a construtora nunca esteve comercialmente tão activa em Portugal como actualmente”. Destaca mesmo que está “na lista final de várias obras públicas e privadas”.
Joaquim Fitas adiantou que a construtora deverá encerra o corrente ano com um volume de negócios de 300 milhões de euros, mais de 90% realizado nos mercados externos.