Relatório: cultura criada no Barclays contribuiu para escândalo da Libor
Houve "uma ênfase excessiva" nos resultados financeiros a curto prazo, diz o relatório interno .
O relatório independente encomendado pelo banco e liderado pelo advogado Anthony Salz é uma crítica à gestão do antigo presidente executivo, Bob Diamond. O documento refere que a rápida expansão do Barclays durante os anos que antecederam a crise financeira foi provocada pelos "desafios culturais" dentro da instituição.
"O resultado deste crescimento foi que a gestão do Barclays se tornou cada vez mais complexa, o que tende a desenvolver diferentes culturas e valores", lê-se no relatório citado pelas agências de notícias, que refere ainda a inexistência de um objectivo comum num grupo que “cresceu e se diversificou significativamente em menos de duas décadas."
O resultado foi "uma forte ambição por ganhar" quando o banco estava cada vez mais dominado pelo negócio de banca de investimento, onde há uma "forte cultura de ganhar". Isso significava, diz o documento, que existia "uma ênfase excessiva" nos resultados financeiros a curto prazo, “reforçado por uma cultura de salários e prémios que recompensavam o gerar dinheiro acima de servir os interesses dos clientes."
O relatório conhecido esta quarta-feira foi encomendado pelo próprio banco depois de ter sido envolvido no ano passado no escândalo de manipulação da taxa interbancária Libor (o equivalente britânico da Euribor para a zona euro), entre 2005 e 2009, e aponta para a necessidade de o Barclays levar a cabo uma "transformação" para restaurar sua reputação entre clientes e investidores.
O presidente não-executivo do Barclays, David Walker, admitiu nesta quarta-feira que ler o relatório foi "incómodo", mas que o banco deve "aprender com as conclusões" do documento. "O conselho executivo pediu um parecer perspicaz, rigoroso e – o que ra crucial – independente sobre a maneira como o Barclays poderia melhorar e foi precisamente o que recebemos", afirmou, em comunicado.
Ainda segundo o documento de mais de 200 páginas, o banco pagou aos seus responsáveis bónus “sem possibilidade de justificação” e atribui os danos na reputação do banco também ao facto de “alguns banqueiros terem parecido estar alheios à realidade”, uma vez que, mesmo depois da injecção na banca de dinheiro dos contribuintes, “muitos banqueiros seniores pareciam ainda achar que mereciam os níveis de remuneração que tinham antes da crise".
Antony Jenkins, de 51 anos, que substituiu Robert Siamond como presidente executivo em Agosto, está a tentar limitar os salários e aumentar os lucros aos accionistas para ajudar a restaurar a confiança dos investidores. O banco tem ainda em curso um programa de reestruturação interna.
O banco com sede em Londres anunciou em Fevereiro a eliminação de 3700 postos de trabalho este ano, em vários países em que está presente, depois de pela primeira vez em mais de duas décadas ter apresentado prejuízos de 1,2 mil milhões de euros em 2012. A operação em Portugal também está envolvida neste plano, através da redução de pelo menos 100 agências e a saída de 350 trabalhadores.
O relatório agora conhecido indica ainda que o Barclays deve ter na administração executiva mais pessoas com experiência no sector bancário para que possam "desafiar efectivamente o desempenho da gestão" e “certificar-se de que os sistemas de gestão de risco são robustos".