Presidente do Eurogrupo pede à Grécia para “deixar de perder tempo”
Dijsselbloem “não crê” num adiantamento de dinheiro a Atenas. Gregos devem começar já a trabalhar com a troika, dizem ministros do Eurogrupo.
À entrada da reunião, em Bruxelas, o presidente do Eurogrupo, Jeroen Dijsselbloem, colocou mais pressão sobre o homólogo grego, a quem não poupou as críticas. “Foram feitos muito poucos progressos em duas semanas [desde a última reunião do Eurogrupo], é preciso deixar de perder tempo e começar a discutir de forma séria”, afirmou aos jornalistas.
Dijsselbloem, que é ministro das Finanças da Holanda pelo Partido Trabalhista, insiste que as negociações com Atenas devem continuar a acontecer no quadro do programa que vigorou nos últimos anos. “Estamos preparados para dar assistência financeira à Grécia na condição de que [o país] faça progressos na aplicação do programa”, vincou.
Depois de um acordo de princípio com o Eurogrupo, o Governo helénico enviou na última sexta-feira aos parceiros europeus um documento onde detalha algumas das medidas que quer implementar para gerar mais receita e para controlar a despesa pública. No rol de medidas encontram-se reformas destinadas a combater a fraude e a evasão fiscais (com um plano que inclui “inspectores não-profissionais”, uma espécie de clientes-mistério, a controlar no terreno – lojas e restaurantes, por exemplo – os comportamentos fraudulentos), um plano de amnistia fiscal (para o pagamento voluntário de dívidas ao fisco), legislação para legalizar o jogo online, um plano para criar um conselho de finanças públicas (destinado a avaliar de forma independente as políticas orçamentais).
No domingo, num evento organizado pelo jornal holandês Volkskrant, Dijsselbloem afirmou que as sete reformas propostas pelo ministro das Finanças grego, Yanis Varoufakis, na sua carta, não são suficientes para que o Eurogrupo aceite libertar já uma parte da última tranche do empréstimo grego. Isto apesar dos receios de que Atenas fique sem dinheiro ainda antes do final do mês de Março.
“A Grécia tem uma necessidade urgente de dinheiro porque parece ter os cofres quase vazios, mas tem de dar algum passo antes de receber dinheiro. Não creio que isso aconteça este mês”, afirmou Dijsselbloem.
Apesar de Varoufakis apresentar as medidas contidas na carta, não deverá haver um debate de fundo sobre as mesmas, nem decisões sobre o programa de reformas da Grécia, já que são as instituições (Comissão Europeia, Banco Central Europeu e Fundo Monetário Internacional) que deverão analisá-las em detalhe.
Foi o que repetiram, à entrada da reunião, vários responsáveis das Finanças da zona euro, com o ministro das Finanças alemão, Wolfgang Schäuble, a insistir que o Governo grego deve agora “negociar com a troika”. “Penso que não há nada de novo no que diz respeito à Grécia”, disse Schäuble.
Jeroen Dijsselbloem também não quis comentar medidas específicas, mas instou o Governo de Alexis Tsipras a começar imediatamente a trabalhar com as instituições, criticando o facto de, nas últimas duas semanas, desde o acordo do Eurogrupo para uma extensão dos empréstimos à Grécia, ter havido “muito poucos progressos”.
"Temos de parar de perder tempo", alertou, até porque, relembrou, a extensão dos empréstimos só dura até o final de Junho.
Para a reunião desta segunda-feira esperava-se que fosse clarificada a organização do trabalho técnico entre o Governo grego e as instituições (Comissão Europeia, Banco Central Europeu e FMI), para que estas últimas possam recomendar ao Eurogrupo, em Abril, o desembolso dos 7 mil milhões do empréstimo a que Atenas ainda pode aceder.
Há também informações contraditórias sobre quem vai liderar as negociações com as instituições do lado grego, com o ministro das Finanças irlandês, Micheal Noonan, a adiantar que os trabalhos poderiam ser coordenados pelo “vice” de Tsipras, Yanis Dragasakis. Uma informação logo desmentida pelo gabinete de Dragasakis, informa o Kathimerini no Twitter, garantindo que é Varoufakis quem será encarregado das negociações.
As dúvidas surgidas em torno de Varoufakis neste processo devem-se às críticas de que o ministro das Finanças tem sido alvo dentro do Syriza. No sábado, Alexis Tsipras disse numa entrevista ao Spiegel no sábado que queria “menos palavras e mais acções” de todos os seus ministros. No mesmo dia, também o jornal grego Avgi, próximo do Syriza, recomendou a Varoufakis que fosse mais “frugal” nas suas palavras.