Portugal não ganhava tanto dinheiro com emigrantes desde o início do século

Há mais dinheiro a vir de portugueses no estrangeiro, e as remessas dos imigrantes no país estão a descer. No ano passado, o saldo líquido foi de 2522 milhões de euros, o montante mais alto dos últimos 13 anos.

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Maior parte das remessas para Portugal continuam a vir de França e da Suíça Reuters

A tendência de crescimento parece manter-se este ano, já que nos primeiros três meses (últimos dados disponíveis), o saldo era positivo para Portugal em 664 milhões de euros (mais 14% face a idêntico período do ano passado). Os números, disponíveis na base de dados do Banco de Portugal, mostram assim a tendência de emigração de muitos trabalhadores portugueses, que partiram para mercados como Angola, Espanha ou  Reino Unido, principalmente a partir de 2010.

Além disso, houve também uma descida dos valores enviados pelos cidadãos estrangeiros que vieram para Portugal, fenómeno a que a profunda crise que o país atravessou não é alheia. No ano passado, o dinheiro enviado para fora do país (que funciona como passivo) chegou aos 535 milhões de euros (-3,7% face a 2013), quando o valor que deu entrada na economia portuguesa (activo) foi de 3057 milhões (+1,4%).

Para o primeiro-ministro, que continua a defender que nunca convidou ninguém a emigrar, estas são boas notícias (pelo menos a curto prazo), já que os que partiram, com ou sem convite, ajudam agora a financiar a economia portuguesa e a equilibrar a balança de pagamentos.

A história da emigração continua a ter um forte peso na relação das remessas que são enviadas do exterior, já que é de França e da Suíça que chega a maior parte do dinheiro: no ano passado o valor foi de 882 e 813 milhões de euros, respectivamente (55% do total).

Ao mesmo tempo, verifica-se uma subida do dinheiro que chega  de Espanha, Reino Unido e Angola, mercados conhecidos da recente vaga de saída de trabalhadores de Portugal. De Angola chegaram 248 milhões no ano passado, mas este valor já reflecte a crise ditada pela baixa do preço do petróleo (em 2013 foram 304 milhões). Já do Reino Unido vieram 202 milhões no ano passado (+29,5%) e de Espanha outros 167 milhões (+6,4%).  

Quanto ao valor enviado pelos imigrantes em Portugal, este registou um pico em 2006, quando chegou aos 610 milhões de euros. Depois disso, foi tendo altos e baixos, com os 535 milhões do ano passado a representarem uma quebra de 9% face a 2011, ano em que a troika de credores chegou ao país. No caso dos ucranianos, a quebra é expressiva: se em 2011 o valor era de 49 milhões, em 2014 não passou dos 17,2 milhões de euros (-65%).

Há, no entanto, casos de recuperação e de crescimento. Após uma descida em 2012, as remessas enviadas para o Brasil voltaram a subir. No ano passado chegaram aos 255 milhões, com um ligeiro crescimento face a 2013.

Remessas para a China disparam
Depois, há o caso da China, que em dez anos disparou de apenas 1,1 milhões de euros para 73,2 milhões no ano passado. O maior salto em valor foi dado precisamente no ano da chegada da troika, altura em que subiu 42 milhões, para continuar a crescer nos anos seguintes. Em 2014, no entanto, verificou-se uma ligeira descida de 5%, após uma subida de 10% no ano anterior.

Um estudo do INE, feito com base no Censos de 2011, constatava que o número de chineses em Portugal tinha crescido cerca de cinco vezes entre 2001 e 2011, passando a ser a  nona comunidade estrangeira residente no país (com 75,7% das pessoas com 15 ou mais anos a ter o trabalho como principal fonte de rendimento). Ao todo, seriam 11.458 cidadãos de nacionalidade chinesa, o que equivalia a 2,9% do total de estrangeiros residentes. 

Já um estudo recente de Miguel Santos Neves e Annette Bongardt, intitulado The chinese business community at a crossroads between crisis response and China’s assertive global strategy - the case of Portugal, dava conta de que em 2012 o número de chineses residentes seria de 17.447, e que isso equivalia a 4,2% da população estrangeira, devido à saída de muitos outros imigrantes.

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