Perderam-se 95 mil empregos entre criação e encerramento de empresas
Renovação do tecido empresarial português não chega para recuperar postos de trabalho perdidos. Novos negócios geraram menos 4200 milhões de receitas e recuaram a níveis anteriores a 2004.
Dados divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) na sexta-feira permitem concluir que a renovação do tecido empresarial português não está a ser plena, apesar de haver muitas empresas a abrir. A começar pelo facto de o número de negócios fechados superar largamente os que são inaugurados. Em 2012, essa relação foi negativa em mais de 57 mil, mesmo depois de uma queda de 7,4% nos encerramentos (a criação também registou uma redução, embora menor, de 3,6%). Analisando apenas as sociedades (o que exclui as empresas em nome individual), o saldo é igualmente deficitário: 26.700 negócios abertos para 31.600 destruídos, o que resultou numa perda líquida de quase cinco mil.
Mas para lá dos números globais dos nascimentos e dos encerramentos, os dados do INE, que abrangem o período entre 2004 e 2012, comprovam que as empresas que estão a aparecer são regra geral mais pequenas, empregando menos pessoas e gerando receitas inferiores do que as que deixam de existir. Esta distância que as separa tem, aliás, vindo a adensar-se nos últimos anos, fruto da crise, com os novos negócios a criar cada vez menos postos de trabalho e a gerar cada vez menos receitas. O mesmo comportamento é visível nas sociedades que fecham as portas, uma parte já em acentuadas dificuldades financeiras.
Em 2012, as 133 mil empresas inauguradas deram emprego a mais de 165 mil pessoas. Um número que perde força perante os postos de trabalho destruídos pelos negócios encerrados: mais de 261 mil. O saldo líquido foi, por isso, negativo em 95 mil, tratando-se de uma melhoria face a 2011 (em que a perda foi superior a 130 mil), mas superando os maus resultados de todos os anos anteriores, até 2008. É que foi precisamente neste ano que o cenário se inverteu por completo, já que, até aí, o saldo era positivo ao nível do emprego, assim como na relação entre negócios criados e fechados. Em 2007, por exemplo, foram inaugurados quase 186 mil e desapareceram apenas 152 mil.
Maior perda na construção
À medida que os anos avançaram e a crise se começou a fazer sentir, foi crescendo também a disparidade nos números. É preciso recuar a 2005 para encontrar uma criação média de emprego tão baixa quanto a de 2012, que foi de 1,25 postos de trabalho por cada nova empresa que nasce. Em 2006, atingiu-se um pico de 1,31 trabalhadores, mas a queda foi sucessiva desde então. Precisamente a tendência inversa à registada nos negócios que fecham portas. Cada um deles tinha, em média, ao serviço 1,37 pessoas em 2012. Apesar de este valor ser inferior ao registado um ano antes, o número vinha subindo desde 2008, tendo chegado a 1,49 em 2011.
No que ao emprego diz respeito, há um sector que se destaca: o da construção, com uma perda líquida de mais de 27 mil postos de trabalho em 2011 (ou seja, 21% do total). Nesta actividade, o número médio de funcionários nas empresas criadas era de 1,9 nesse ano e nas encerradas de 2,3, não existindo dados posteriores. O comércio deu o segundo maior contributo à destruição de empregos, com um saldo negativo de quase 25 mil, seguindo-se a indústria transformadora, com perto de 20 mil.
Em termos geográficos, Lisboa lidera, com uma perda superior a 22 mil postos de trabalho, surgindo depois o Norte (17 mil) e o Centro (14.500), também porque são as regiões que mais emprego geram. No entanto, é na Madeira que se regista a maior disparidade entre as empresas criadas e as encerradas, visto que as primeiras tinham ao serviço 1,1 pessoas e, as segundas, quase 2. Estes dados dizem igualmente respeito a 2011, visto que o INE não divulgou ainda os indicadores mais recentes.
Receitas de novas empresas abaixo de 2004
Tal como no emprego, as receitas dos novos negócios também ficam aquém das que eram geradas pelos que desapareceram. Em termos global, as 133 mil empresas criadas em 2012 facturavam um pouco mais de 2500 milhões de euros. Um valor que fica a 4200 milhões de euros de distância do atingido pelas 191 mil sociedades que fecharam, que superava os 6700 milhões de euros. Em ambos os casos, deu-se um recuo de perto de 10%, que se torna mais expressivo para as empresas que abriram as portas, visto que o seu aumento foi menor do que a redução dos encerramentos.
Mais conclusivos ainda são os dados relativos ao valor médio das receitas, reveladores da discrepância que se tem acentuado na renovação do tecido empresarial português. Enquanto, em 2012, cada novo negócio gerava vendas de 18.847 euros, cada sociedade extinta atingia uma facturação de 35.507 euros. A diferença média era, por isso, de praticamente 17 mil euros, tendo subido ligeiramente face ao ano anterior.
Os indicadores mostram que o volume de negócios médio das empresas criadas há dois anos nunca foi tão baixo, pelo menos desde 2004. E, ao mesmo tempo, revelam que as receitas das sociedades encerradas tem vindo num crescendo desde 2007, ano em que ficava ligeiramente acima dos 29 mil euros. Este hiato tem vindo a ser aprofundado, a cada ano que passa.
Dos 4200 milhões de euros de perda líquida entre a criação e o desaparecimento de negócios em Portugal em 2012, quase 1500 milhões foram da responsabilidade do sector do comércio, onde as receitas médias de cada nova empresa não passaram dos 45.775 euros um ano antes e as das sociedades que desapareceram atingiram 68.274 euros. Também neste caso, Lisboa lidera, com um saldo negativo de 1673 milhões de euros nas vendas, seguindo-se o Norte (1349 milhões) e o centro (929 milhões).