Passos admite que defendeu mais tempo e mais dinheiro quando estava na oposição
Primeiro-ministro revisita a negociação do plano da troika em 2011. Garante que defendeu mais um ano de ajustamento e um empréstimo superior. Mas justifica: se tivesse colocado a questão entretanto, isso significaria “ter um segundo programa”.
De acordo com o Jornal de Negócios e o Expresso, Passos Coelho defende, nesse texto, que Portugal deveria ter pedido, à partida, mais um ano para cumprir o programa de ajustamento e que o envelope financeiro da União Europeia e do Fundo Monetário Internacional (78 mil milhões de euros) deveria ter sido maior.
“Parecendo-me que ganharíamos segurança na execução do programa dispondo de mais tempo do que estava previsto (sugeri quatro anos em vez dos três anos apontados) ouvi uma resposta que sugeria mais ou menos o seguinte: ‘Não garantimos que a resposta a essa questão pudesse ter sido positiva, mas é demasiado tarde sequer para a suscitar’”, relata o primeiro-ministro no prefácio citado pelos dois jornais.
Ao recuar até ao período das negociações do programa da troika, em 2011, Passos diz ter deduzido que o Governo socialista de José Sócrates “não tinha colocado esta questão [um prazo mais longo] em cima da mesa e que, naquela fase, ela era extemporânea”.
O primeiro-ministro explica ainda por que não voltou à questão quando chegou ao poder: “Uma vez que o prazo era o que era e modificá-lo corresponderia a uma alteração significativa que obrigaria, na prática, a ter um segundo programa, decidi, como primeiro-ministro, que seria contraproducente seguir essa abordagem ulteriormente.”
Foi o que garantiu enquanto primeiro-ministro e foi esse o discurso oficial do Governo desde a primeira hora. A 9 de Março do ano passado, por exemplo, em visita à Suécia, Passos assegurava: “Portugal vai cumprir [o programa de assistência] com sucesso e sem precisar de mais tempo nem mais dinheiro.” O mesmo garantia o ministro das Finanças, Vítor Gaspar, em Junho, quando repetia que o Governo não pediria “nem mais tempo nem mais dinheiro”.
No prefácio ao livro de Frasquilho, o primeiro-ministro revela que gostaria que o empréstimo tivesse destinada uma verba para o sector empresarial do Estado, SEE. “Esta, sim, parece-me ter sido a grande deficiência associada à estrutura financeira do programa”, escreve.
Para o governante, “mesmo admitindo que pudesse haver alguma razão histórica que justificasse prudência neste domínio, poder-se-ia ter previsto uma fatia de financiamento não suficientemente confortável mas que amortecesse a situação esperada de garrote financeiro [no SEE] que se veio a concretizar”.
O livro de Miguel Frasquilho reúne as crónicas do economista e deputado publicadas na imprensa (maioritariamente no Jornal de Negócios) sobre temas da actualidade política e económica.