Nem saída, quanto mais limpa...

É preciso denunciar a falsidade da saída “limpa” da troika que deixa cá a política suja dos troikistas.

Pelo menos até 2038, quando se programa que 75% dos empréstimos europeus sejam devolvidos, Portugal estará sob “vigilância reforçada”, com inspeções e sujeito a sanções. O relógio de Portas, com a contagem decrescente para a saída, tem de ser atrasado quase um quarto de século.

Ficam cá os condicionamentos do euro e do seu Pacto de Estabilidade e Crescimento, fica cá o Tratado Orçamental e todas as outras regulamentações a vigiar e a garantir o prosseguimento da austeridade.

Fica cá o rasto de destruição deixado pela troika.

A maior recessão desde o final da II Guerra Mundial, o agravamento brutal do desemprego, que atinge perto de 25% da população ativa, nomeadamente os jovens, os mais qualificados, os trabalhadores da indústria e da construção.

Os cortes selvagens nos salários, nas reformas e pensões, nos apoios sociais, na saúde, na educação, na ciência, na cultura, nos serviços públicos, a degradação do poder de compra, dos direitos laborais, da segurança no emprego.

A emigração forçada massiva, como nos piores anos do fascismo.

O alastramento da miséria e da pobreza, que em 2012 atingia já 2 milhões e 590 mil pobres, realidade dramaticamente ilustrada pelas crianças que vão para as escolas com fome ou pelos milhares empurrados para as cantinas sociais.

O investimento, em queda praticamente desde a adesão ao euro, nos três anos da troika foi o mais baixo pelo menos dos últimos cinquenta anos. A economia nacional corre o risco de ficar obsoleta. As privatizações (EDP, REN, Caixa Saúde, GALP, ANA, PT, CTT, Caixa Seguros) proporcionaram negociatas chorudas mas prejudicam os serviços à população e alienam para o estrangeiro riqueza e centros de comando da vida nacional.

E quanto à dívida não há dúvida que também fica e ainda maior.

A dívida externa e a dívida pública explodiram. Esta última, cuja necessidade de contenção justificou a intervenção externa, aumentou nos últimos três anos de 94% do PIB para 129% e continua a crescer (mais 7 mil milhões de euros nos dois primeiros meses deste ano). As taxas de juro (as yields) das obrigações portuguesas desceram, como desceram geralmente em todo o lado, até na Grécia, por movimentos de especuladores e de capitais afastados do investimento produtivo, avolumados pelas injeções de liquidez dos bancos centrais, em busca de maiores rentabilidades. Mas, se desceram, podem mais tarde voltar a subir, como sucedeu não há muito nos estados europeus altamente endividados como o nosso.

A solução não está no país financiar-se junto dos mercados, pedindo novos empréstimos para pagar empréstimos anteriores, a juros de qualquer modo incomportáveis, mas em reestruturar a dívida (prazo, juros e montantes) e preparar condições para recuperar a soberania monetária perdida, com um banco central emissor, que liberte Portugal da dependência dos especuladores nos mercados e afaste de vez o espectro da bancarrota.

A troika não resolveu nenhum dos problemas nacionais. Pelo contrário, agravou-os.

E cá fica a troika nacional – PS, PSD e CDS –, que introduziu o euro, que aprovou o Tratado Orçamental, que aceitou e aceita todas as imposições europeias, que trouxe para cá a troika estrangeira e agora se disponibiliza para assegurar a continuidade da mesma política.

O PS abriu caminho com os PEC e depois, em conjunto com PSD e CDS, instalou a troika no país. Os três partidos não se distinguem nas matérias estruturantes, europeias ou nacionais.

Enquanto o Governo fala da saída limpa de uma troika que nunca devia ter entrado, o futuro fica ainda mais comprometido e incerto.

A questão que se coloca hoje aos portugueses é a de saber a quem dar força.

Dar força aos partidos da troika, para que eternizem a política da troika, ou dar força a quem defende com firmeza a ruptura com essa política?

Dar força aos partidos da troika, para que cumpram os compromissos que têm com o Tratado Orçamental e as imposições europeias, mantendo a política dos cortes e do aumento de impostos, ou dar força a quem luta pela devolução de salários, pensões e direitos?

Dar força aos partidos da troika, que preparam hoje as desculpas que amanhã hão-de usar para não cumprir nenhuma das promessas eleitorais, ou dar força a quem todos os dias cumpre os compromissos que assume e luta ao lado de quem trabalha em defesa dos seus direitos e aspirações?

É preciso denunciar a falsidade da saída “limpa” da troika que deixa cá a política suja dos troikistas. No dia 25 de Maio, o voto na CDU é o melhor contributo para libertar verdadeiramente o país de uns e de outros.

Líder parlamentar do PCP

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