MSC desiste da entrada na operação ferroviária
Empresa de navegação não acredita na privatização da CP Carga.
“A CP Carga presta-nos um excelente serviço e enquanto se mantiverem estas condições não vemos razão para mudar”, disse ao PÚBLICO o administrador da MSC Portugal, Carlos Vasconcelos.
Este responsável diz que o licenciamento para se constituir como operador ferroviário está praticamente concluído e que facilmente poderá começar a operar, “mas preferimos aguardar pela privatização da CP Carga”.
Questionado sobre se a própria MSC poderia estar interessada em comprar a operação de mercadorias da CP, Carlos Vasconcelos diz que tudo depende do caderno de encargos, que, por enquanto, ainda ninguém conhece.
A CP Carga deveria ter sido privatizada em 2012, de acordo com o memorando de entendimento com a troika de credores internacionais, mas o Governo adiou o processo para 2013 e agora para 2014, em anúncios que foram feitos com intervalos de seis meses.
“Tenho incertezas sobre se isto vai mesmo avançar ou não”, diz o administrador da MSC Portugal. “Os compromissos de Portugal com a troika acaba em Maio e os sinais que vemos é que dificilmente se poderá privatizar até lá”, concluiu.
A CP Carga vale muito pouco. As locomotivas pertencem à empresa-mãe CP, a quem a afiliada paga uma renda pela sua utilização. Parte da frota de vagões também não lhe pertence e um dos seus poucos activos – os terminais de mercadorias – deverão passar para a tutela da Refer, no âmbito da liberalização do sector ferroviário, para que outros operadores lhes possam aceder.
De resto, a empresa está em falência técnica praticamente desde que foi constituída, em Agosto de 2009, tendo chegado ao fim do ano com prejuízos de 14 milhões de euros. Em 2010 estes foram de 36,2 milhões, em 2011 de 30 milhões e no ano passado de 19 milhões.
“Não é uma privatização fácil e não sabemos se, politicamente, o Governo a deseja”, diz Carlos Vasconcelos.
Há, no entanto, o risco de a CP Carga ser dissolvida se não tiver comprador porque Bruxelas não permitirá, num sector agora liberalizado, que o Estado português injecte dinheiro numa empresa falida.
A MSC Portugal representa mais de um quarto do mercado da CP Carga e a totalidade do transporte de contentores de e para o porto de Sines. A intenção da companhia marítima ao constituir-se como operadora ferroviária era internalizar esta operação para poder manter a “qualidade e fiabilidade” do serviço prestado pelo operador público. A decisão de suspender o processo partiu da sede da multinacional em Genebra.
Em Portugal, a MSC conta com 190 trabalhadores e espera facturar em 2013 cerca de 140 milhões de euros. No ano passado facturou 128 milhões e teve lucros de 1,2 milhões de euros.
O PÚBLICO perguntou à Secretaria de Estado dos Transportes qual a calendarização para a privatização da CP Carga, mas não obteve resposta.