Malparado nos empréstimos à habitação e ao consumo sobe para novo recorde
As dificuldades dos particulares no pagamento dos empréstimos aumentam. Nas empresas, os créditos de cobrança duvidosa baixaram, mas mantêm-se em níveis historicamente elevados.
Do total de empréstimos concedidos pelos bancos portugueses à economia – somando crédito aos particulares e às empresas – 6,5% eram, em Janeiro, considerados de cobrança duvidosa pelas instituições financeiras. Os valores retiram-se de dados divulgados nesta terça-feira pelo Banco de Portugal (BdP), que apontam para níveis históricos no grau de incumprimento dos particulares.
Com o malparado (créditos por regularizar há mais de 30 dias) a aumentar e os bancos a cumprirem regras mais apertadas na análise do perfil de risco dos clientes, a torneira do crédito à economia tem vindo a fechar-se. Foi o que aconteceu de novo em Janeiro, em que o montante dos empréstimos aos particulares diminuiu em 654 milhões de euros face a Dezembro, seja para a compra de habitação, seja em empréstimos ao consumo.
Só o financiamento às empresas aumentou (em 133 milhões de euros, ao contrário da tendência dos meses anteriores), mas tal não foi suficiente para o total do crédito concedido à economia engrossar, já que que a fatia de empréstimos aos particulares tem um peso maior e estes continuaram a recuar.
Do crédito concedido pelos bancos às empresas, um total de 105.600 milhões de euros, cerca de 10.290 milhões eram considerados pelos bancos como sendo de cobrança duvidosa. Isto significa que 9,74% era classificado como crédito vencido e crédito sobre o qual os bancos têm dúvidas que venha a ser pago dentro do prazo. Este indicador chegou a ultrapassar a barreira dos 10% em Novembro, no mês seguinte recuou para 9,4%, voltando agora a aproximar-se daquela percentagem.
Entre os particulares, o grau de incumprimento continua a subir para níveis-recorde. O peso do crédito de cobrança duvidosa sobre o total dos empréstimos concedidos aproxima-se dos 4%. Em Janeiro, atingiu os 3,9% (5138 milhões de euros), o valor mais alto desde Dezembro de 1997, altura a partir da qual o BdP regista estes dados.
O mesmo acontece com os empréstimos à habitação e ao consumo, que sobem para máximos de 15 anos. O incumprimento continua a ser mais elevado no crédito ao consumo do que no crédito à habitação, o que indicia que, numa situação de dificuldade de pagamento ao banco, é o primeiro tipo de empréstimo (por exemplo, para a compra de carro ou de electrodomésticos) que os portugueses deixam de pagar em primeiro lugar.
Aqui, o crédito de cobrança duvidosa atingiu os 11,9% (1562 milhões de euros), enquanto no crédito à habitação o peso do malparado foi de 2,07% (264,65 milhões de euros).