Lojas de bairro aumentam clientes graças à Internet

Comércio tradicional aproveita a rede para chegar a mais consumidores e estimular a procura. Este ano, as compras online em Portugal deverão chegar aos 2,9 milhões de euros.

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A página no Facebook da loja Rita’s Closet é uma extensão do negócio local Daniel Rocha
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Mónica abriu a Hippie Lover em 2010, no dia em que fez 28 anos Daniel Rocha

A crise está a afugentar clientes, trava o ímpeto consumista, altera de forma radical a forma como, hoje, decidimos comprar produtos. O comércio tradicional fecha portas em catadupa mas também se está a renovar. E há quem utilize a Internet para aumentar a procura e ir além da fronteira do bairro. Um estudo recente da Associação de Comércio Electrónico e Publicidade Interactiva (ACEPI) dá conta das potencialidades do e-commerce: em Portugal há 2,7 milhões de consumidores online e dentro de quatro anos o número pode chegar aos 3,5 milhões. Em média, por ano, os portugueses gastam 967 euros em compras na Internet, valor ainda longe do líder mundial, o Reino Unido, onde se gastam em média 2500 euros. As vendas online valerão, este ano, 2,9 milhões de euros, mas podem quase duplicar em 2017.

A página no Facebook da loja Rita’s Closet é uma extensão do negócio local. Luís Carvalho, 36 anos, decidiu lançar-se no comércio com Rita Lopes depois de dez anos a trabalhar por conta de outrem na área da publicidade e design. Estar na net foi quase simultâneo com a abertura da loja física. “Começámos a colocar fotografias da roupa e rapidamente atingimos cinco mil ‘gostos’. A divulgação é feita pelos clientes, através do passa-a-palavra”, conta ao PÚBLICO. No primeiro ano de actividade, as fotos não mostravam a cara de Rita. A partir do momento em que decidiram mostrar o rosto, aumentaram o número de fãs. “É uma forma de aproximar os clientes da loja, sentem simpatia e afinidade. Conseguimos cativar as clientes”, explica.

Luís Carvalho ainda não fez contas, mas estima que 20% das vendas já sejam feitas graças à Internet, através de mensagens e e-mails e com recurso a transferências bancárias. A grande vantagem é divulgar e atrair procura, derrubando a barreira da localização geográfica. “Não conseguiria viver sem a loja física. A mais-valia da internet é tornar a loja conhecida e as clientes vêem de propósito. Identificam-se com a Rita”, explica, acrescentando que o “trabalho na Internet não teria o mesmo efeito se fosse feito com uma modelo”. Seria mais impessoal.

Mónica Martins Soutelo, 31 anos, vai mais além nesta estratégia. Além das roupas que vende na Hippie Lover, em Oeiras e através da página do Facebook, mostra aos 22.345 fãs pedaços da sua vida. Seguimos-lhe o rasto durante a gravidez, conhecemos o rosto da filha, as reflexões que faz ou os momentos importantes. “É fundamental fazermos aquilo que gostamos e do outro lado as clientes sentem isso. A minha página no Facebook é mais do que uma loja de roupa, existe o factor humano que é muito importante”, diz. As mensagens que recebe são de “afecto”, garante. “É muito gratificante e faz-me ter mais uma vez a certeza de que o meu caminho é este”, continua.

Mónica abriu a Hippie Lover em 2010, no dia em que fez 28 anos. Trabalhava na área da banca mas sempre quis ter uma loja de roupa. Avançou com o projecto e criou, em simultâneo, a página na rede social. O passa-a-palavra resultou. Vende para todo o país e alguns países europeus, com o mesmo processo usado pela Rita’s Closet: e-mail, mensagens e transferências bancárias. “Cerca de metade das vendas que faço são apenas online; a outra percentagem de vendas são feitas na loja mas essencialmente a clientes que descobriram a loja através da Internet”, adianta. O crescimento do negócio e da procura já a levaram a mudar-se para uma loja de maior dimensão. “Actualmente já não faria qualquer sentido para mim [não ter a vertente online]. Já faz parte do meu dia-a-dia”, resume.

Oportunidade para grandes e pequenos
Um estudo recente elaborado pela consultora Deloitte, focado nas intenções de compra dos portugueses para este Natal, revela que 18% dos consumidores procuram os presentes na Internet. Cerca de 14% compara os preços nesta plataforma e 17% faz mesmo as compras da época festiva online. “O processo de compra não é apenas a transacção. É também a procura de ideias, a comparação, a selecção de alterativas e todo o modo de relacionamento futuro com a base de clientes”, afirma Nuno Netto, responsável em Portugal pelo estudo “Natal 2013, Novos tempos, Novos costumes”. Estar online é, hoje, uma “enorme oportunidade para quem a souber aproveitar”, do grande ao pequeno comércio. O sucesso dependerá de alguns passos: “ir ao encontro do que os consumidores procuram, oferecer conveniência, preço e transparência”.

Encomendar online e levantar na loja é uma das grandes tendências. Está a ser seguida por grandes cadeias de retalho, como a Zara da Inditex, que cada vez mais incentivam o cliente a encomendar através da Internet um artigo que não está disponível no estabelecimento. No caso do comércio tradicional, as vantagens da proximidade (quer de localização, quer afectiva) conseguem transpor-se. Se o consumidor conhecer o rosto, identifica-se. Confia.

“O sector está desperto para o online. Nos últimos anos tem entrado uma nova geração de empresários, muitas vezes filhos dos proprietários, que têm formação, acedem a plataformas e avançam com um produto diferenciador”, diz Carla Salsinha, presidente da União de Associações de Comércio e Serviços. Quem não tem site, opta por estar em páginas específicas que juntam várias empresas e negócios, acrescenta.

A opção de Eduardo Freitas foi precisamente essa. A Drogaria Elenco Completo, localizada em Ronfe, concelho de Guimarães, tem uma loja no portal “coisas.com”, detido e gerido pela Fixeads (dona do OLX). A drogaria já existe há mais de 30 anos e está na Internet há dois. “Criar um site era um objectivo que tinha há um tempo, mas era preciso conhecer quem soubesse fazê-lo. Por isso, optámos pelo ‘coisas’ pela visibilidade”, conta o dono da Elenco Completo que, online, tem uma reputação com 100% de feedback positivo. “Temos clientes de todo o país e também de fora. Era óptimo que a maioria das vendas fosse na internet, teria menos despesa, menos stock…”, afirma. É que, apesar da visibilidade que a rede traz, o negócio ainda se faz no canal tradicional.

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