Joseph Stiglitz: "É necessário haver mais Europa"

Nobel da Economia diz que a recuperação da zona euro não acontecerá antes de 2018. A economia deixou de cair mas estabilizou a um nível muito baixo, diz numa entrevista ao Expresso.

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Joseph Stiglitz nas Conferências do Estoril em 2009 Nuno Ferreira Santos

Stiglitz é um conhecido crítico das políticas de austeridade, caminho que mais uma vez desaconselha o Governo português a seguir. Nesta entrevista, diz que é mais provável os países regressarem aos mercados por si só, do que com apoio.

“O consenso geral é que a maior parte dos países europeus não vão conseguir regressar aos mercados”, nota, explicando que só uma melhoria da sustentabilidade da dívida, que é medida pelo peso da dívida pública no Produto Interno Bruto (PIB), facilitaria um regresso aos mercados. No entanto, aponta, a troika subestimou a gravidade do impacto das suas políticas e as recessões causadas. Estas, ao fazerem cair o PIB, aumentaram o peso da dívida.

O economista e professor da Universidade de Columbia nos Estados Unidos não está necessariamente mais optimista em relação às economias da zona euro agora que a recessão terminou. A única notícia boa é que a economia deixou de cair. Mas enquanto houver austeridade, será muito difícil haver uma recuperação, explica. "A economia estabilizou num nível muito baixo. A este ritmo, a recuperação está a anos de distância. A perda de capital humano e o desperdício de recursos é enorme." 

Stiglitz evoca o célebre lema de Keynes de que, no longo prazo, as economias recuperam, mas isso “quando estivermos todos mortos”. A austeridade “é uma dor desnecessária”, defende, e “auto-infligida”.

Para resolver o problema da dívida, Stiglitz defende "eurobonds ou um mecanismo semelhante de contracção de empréstimos a nível europeu”. “A Europa precisa de uma união bancária completa, não apenas uma supervisão, mecanismo de resolução e garantia de depósitos comuns”, diz ainda ao Expresso. E conclui: “É necessário haver mais Europa.”

E isso não apenas no orçamento disponível em Bruxelas, que deveria ser “mais do que o valor minúsculo que tem hoje” mas também, por exemplo, na política industrial. Aqui, diz Stiglitz, “devia ser permitido aos países mais atrasados recuperar e a directiva da concorrência torna isso muito difícil”.

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