Industriais do leite criticam estudo sobre o preço do leite

Estudo do Ministério da Agricultura acusado de nõ reflectir a realidade do preço do leite ao longo de toda a cadeia de abastecimento.

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helena colaço salazar

Em Dezembro, o Grupo de Planeamento e Políticas do Ministério da Agricultura, divulgou um relatório que concluia que o preço das rações, um dos principais custos de produção do leite, aumentou 6,6% entre 2005 e 2011. Um aumento que representa dez vezes mais do que o preço pago aos produtores. E sublinhava que "esta evolução revela a incapacidade de refletir as grandes subidas dos custos inerentes à atividade agrícola nos anos mais recentes, traduzindo-se numa diminuição das margens ligadas à produção".

Este estudo, intitulado"Índices de Preços na Cadeia de Abastecimento Alimentar para o sector do Leite" foi elabora no no quadro de actividades da PARCA (Plataforma de Acompanhamento das Relações na Cadeia Alimentar) que tem como objectivo promover a transparência ao longo da cadeia alimentar.

Mas as organizações do sector discordam das conclusões e da metodologia usada, acusando o estudo de colocar a indústria de leite numa posição mais favorável do que a realidade ao publicar dados difíceis de ratificar. "Este documento apresenta falhas metodológicas graves que condicionam todo o estudo e que dão origem a constatações distorcidas e muito distantes da efectiva repartição do valor ao longo da cadeia", dizem.

Em concreto, a ANIL e Fenelac afirmam que os preços à saída de fábrica referidos no estudo refletem apenas um valor máximo possível e não a realidade.

De acordo com o relatório, o preço do leite embalado à saída da fábrica tem vindo a aumentar cerca de 15% desde 2005. Porém, os verdadeiros preços recebidos pelas empresas fornecedoras de leite são impossíveis de se saber devido à “larga diversidade de descontos contratuais e extra-contratuais” exigidos pelas lojas, dizem as organizações, em comunicado.

"Em verdade o conceito de preços à saída de fábrica não existe e, pelo menos no sector de lacticínios, os preços
comunicados são bastante superiores aos preços líquidos efectivamente recebidos pelas empresas, o que distorce
completamente a análise efectuada", acrescenta o comunicado.

O estudo e as suas conclusões "colocam a indústria numa posição muito mais favorável do que a que efectivamente se verifica", sublinhando que "as próprias autoridades têm constatado sistematicamente um comportamento desleal da moderna distribuição e predatório ao nível dos preços e margens que pratica."

Em Janeiro de 2012, por exemplo, o Continente vendeu leite a 13 cêntimos por litro – cerca de 20 cêntimos abaixo do preço corrente. Embora Portugal produza leite suficiente para o mercado nacional, o Continente terá adquirido o leite em Espanha abaixo do custo de produção, levando a ANIL e Fenelac a acusar a grande superfície de pactuar com dumping: “Fica evidente que o único objectivo das importações de leite é a destruição de valor e das marcas comerciais nacionais e, em última análise, o aumento dos lucros da distribuição, nem que para tal milhares de produtores de leite e as suas famílias declarem falência”.

Assim, o comunicado acusa o relatório governamental de ignorar a realidade da indústria láctea e de tirar conclusões que são “manifestamente contraditórias” às de outros estudos, concretamente os da Autoridade da Concorrência.

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