Decisão sobre renovação da dívida do Grupo Espírito Santo à PT será tomada pela Oi
A PT, liderada por Granadeiro, diz que garante “máxima protecção” à Oi sobre empréstimos ao GES.
O investimento da operadora portuguesa na holding não financeira do GES (realizado antes da Oi assumir a gestão dos activos) está a gerar um braço-de-ferro que tem no centro o presidente da comissão executiva da PT, Henrique Granadeiro, que viabilizou o apoio ao GES e que já veio garantir tudo estar a fazer para “proteger os interesses dos accionistas” portugueses e brasileiros.
“Na sequência do press release da Portugal Telecom, SGPS [liderada por Henrique Granadeiro], de 30 de Junho de 2014, relativo às notícias veiculadas na comunicação social relacionadas com a aplicação de tesouraria em papel comercial da Rioforte, sociedade do Grupo Espírito Santo (“GES”), a PT vem informar que, tendo sempre prestado à Oi S.A. (“Oi”) toda a informação por esta solicitada, está fortemente empenhada na resolução desta questão”. Este é o primeiro parágrafo do segundo comunicado (o primeiro foi emitido na segunda-feira), assinado por Granadeiro e pelo administrador financeiro da PT, Luís Pacheco de Melo (que nunca assina comunicados).
Os dois esclareceram ainda que a PT “está a prestar todo o suporte à Oi nas diligências necessárias para garantir à Oi a máxima protecção da aplicação de tesouraria em papel comercial da Rioforte”. E manifestam a convicção “de que as várias partes, PT, Oi e GES, serão capazes de encontrar as soluções adequadas para proteger os interesses dos accionistas da PT e da Oi”.
Um sinal de que as relações luso-brasileiras estão tremidas, o que pode fragilizar a fusão a decorrer entre a PT e a OI, liderada por Zeinal Bava (ex-presidente da PT) e culminar na brasileirização da operadora nacional. O Expresso diário já veio dizer que a PT poderá reduzir a sua posição na Oi.
A intervenção de Granadeiro e de Pacheco de Melo surge depois da Oi ter emitido também uma nota onde diz que desconhecia os factos e que ia pedir mais esclarecimentos.A compra de títulos de divida a 90 dias da Rioforte, que vencem a 15 de Julho, foi aprovada pela comissão executiva da PT, e não foi submetida nem ao conselho de administração (onde estão sentados dois gestores do BES), nem à comissão de auditoria. Sublinhe-se que o BES possui 10% da PT e a PT detém 2% do BES.
A Oi garantiu que “não foi informada, nem participou das decisões que levaram à realização das aplicações de recursos em questão”. E que o investimento decorreu antes do aumento de capital, através do qual os accionistas da PT (incluindo o BES), passaram a deter uma participação de 37,4% na operadora brasileira.
A operadora brasileira informa que “já solicitou esclarecimentos adicionais à PT” e que “analisará as informações e tomará as medidas necessárias à defesa de seus interesses”.
Na segunda-feira Granadeiro e Pacheco de Melo já tinham enviado ao mercado outra clarificação a informar que a aplicação de 897 milhões de euros na Rioforte foi feita “através das então subsidiárias PT International Finance BV e PT Portugal SGPS SA [esta presidida por Zeinal Bava]”. Ou seja, dando a entender que Bava, que está à frente da OI, esteve envolvido na polémica operação financeira. Assim sendo, o apoio ao GES não só trouxe à luz do dia o braço de ferro entre brasileiros e portugueses mas também entre Granadeiro e Bava.
A notícia de que a PT subscreveu 897 milhões de euros de dívida da Rioforte veio dar uma nova dimensão ao já complexo dossier Espírito Santo centrado até à semana passada nas empresas do GES e no BES. E internacionalizou-o, já que a PT tem accionistas brasileiros e é cotada na bolsa de Nova Iorque.
Ao mesmo tempo, também agravou a pressão dos investidores à volta das operadoras o que ficou expresso na evolução negativas das cotações: pela quinta sessão consecutiva, a PT caiu, registando um tombo de 7,29% para os 2,29 euros. E está agora em valores mínimos de há 19 anos.
O investimento no GES já levou a que dois representantes da Oi na administração da PT (não executivos), Fernando Magalhães Portella e Otávio Marques de Azevedo, tivessem renunciado aos seus cargos.