Governo vende por mil milhões a Caixa Seguros à chinesa Fosun

A Fosun pagou mil milhões de euros por 30% do mercado segurador português (Fidelidade e Multicare) e vai desenvolver uma parceira estratégica com a CGD, que mantém 15% da Caixa Seguros.

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O negócio, envolvendo um terço do mercado segurador português, foi de mil milhões de euros, mas o encaixe total ascende a quase 1209 milhões de euros, em resultado da distribuição prévia de dividendos de 208,9 milhões de euros. Esta é a terceira privatização realizada pelo actual executivo liderado por Pedro Passos Coelho a ser entregue a investidores chineses (Caixa Seguros, EDP, REN) e que no conjunto já renderam ao Estado cerca de quatro mil milhões de euros.  

A oferta da Fosun afastou a entregue pelo fundo de private equity norte-americano Apollo, também seleccionado pelo Governo para disputar a fase final do concurso de venda directa da maioria do capital da Caixa Seguros (nomeadamente a Fidelidade, Multicare, Seguros de Saúde, Cares e Companhia de Seguros).

“O Conselho de Ministros seleccionou a proposta da Fosun, em especial no que reporta ao encaixe financeiro, ao projecto estratégico, à minimização das condicionantes jurídicas e ao contributo para a preservação da unidade estratégica do grupo segurador", disse o secretário de Estado das Finanças, Manuel Rodrigues, no final da reunião desta quinta-feira, que aprovou a operação.

O Governo explicou que a proposta da Fosun “dominou claramente” quer em termos de valores (mais de 200 milhões da proposta concorrente) quer de condições, mas não esclareceu quais as vantagens estratégicas para o Estado português resultantes da entrega de 30% do mercado segurador nacional ao grupo chinês. Os responsáveis do Ministério das Finanças lembraram, ainda, que a Fosun “é um dos maiores grupos privados chineses”, para além de ter experiência no sector segurador, sendo, nomeadamente, parceiro da norte-americana Prudencial. O secretário de Estado garantiu ainda que o grupo chinês tencionan expandir as operações da Caixa Seguros na China e em outros mercados asiáticos.

A escolha da Fosun, em detrimento da Apollo, foi também reforçada pelas “posições unânimes dos assessores da privatização, a Caixa BI e o JP Morgan, e pelo parecer favorável da comissão especial de acompanhamento das privatizações."

Para as Finanças a proposta da Fosun deu maiores garantias de sustentabilidade comprometendo-se o grupo a ficar na Caixa Seguros por um período superior (pelo menos 10 anos) aos quatro anos exigidos, algo que os norte-americanos não admitiam. O Governo continua a justificar a venda da Caixa Seguros como sendo fruto de uma imposição da troika, ainda que este seja um ponto que não consta do memorando (que é conhecido) assinado com a UE/BCE/FMI. Em todo o caso, o produto da privatização destinar-se-á, garantem as autoridades, a recapitalizar o banco do Estado. 

Outra das condições que pesou na decisão de privatizar a Caixa Seguros a favor da Fosun deveu-se ao facto de este grupo, ao contrário do que pretendia a Apollo, não ter excluído da negociação a Caixa Poupança (seguros de capitalização), com cerca de três mil milhões de divida pública portuguesa .

Os chineses mostraram-se também mais flexíveis a ser parceiros da CGD na Caixa Seguros, dado que o banco público português se manterá, com uma posição de 15%, no capital da holding que será dominada pelos chineses. Recorde-se que uma das imposições do contrato que esteve a ser negociado dava ao adquirente da Caixa Seguros (e ao vendedor, a CGD) exclusividade mútua, por 25 anos, na comercialização dos produtos da Fidelidade, aos balcões do banco estatal.    
A venda da Caixa Seguros à Fosun, por mil milhões de euros (valor sujeito a ajustamento decorrente de variação patrimonial das várias seguradoras da Caixa Seguros), possibilitou ao Governo anunciar um encaixe total resultante das várias privatizações (Caixa Seguros, EDP, REN, CTT, Ana) de 8,1 mil milhões de euros. Isto, apesar do encaixe da venda da Caixa Seguros se destinar a reforçar os rácios do banco estatal, o vendedor.

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