“Governo transformou os swaps num processo político”, diz Silva Rodrigues

Ex-presidente da Metro de Lisboa/Carris, afastado do cargo por causa desta polémica, sustentou que sempre actuou em defesa dos interesses do Estado.

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Daniel Rocha
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Muito crítico da decisão pelo actual executivo, que optou por afastá-lo do cargo pelo facto de, enquanto presidente da Carris (2003-2012), ter autorizado a subscrição de dois derivados – considerados tóxicos numa auditoria do IGCP –, o gestor referiu que a administração “actuou sempre norteada pela defesa do interesse da empresa e, consequentemente, do seu accionista Estado”.

Silva Rodrigues salientou, aliás, que foi “exonerado poucas semanas depois” de uma “declaração de apreço e de confiança no desempenho do conselho de administração” da Metro de Lisboa/Carris, empresas fundidas em 2012 e que passou a liderar deste então.

O responsável referia-se ao facto de, na assembleia geral da Metro de Lisboa/Carris de 26 de Março (em que foi aprovado o relatório e contas do grupo), o accionista Estado ter dado um voto de confiança no conselho de administração, no órgão de fiscalização e, individualmente, em cada um dos seus membros”.

“O que aconteceu neste curtíssimo período de tempo [Silva Rodrigues foi exonerado a 6 de Junho], que fez alterar, radicalmente, a posição do Governo”, questionou perante os deputados da comissão parlamentar de inquérito.

O gestor explicou ainda que, nas duas reuniões que manteve com membros do Governo (nomeadamente a actual ministra das Finanças e o secretário de Estado dos Transportes), nunca lhe “foi entregue ou facultado para leitura ou análise cópia do relatório do IGCP, que concluiu pela existência de dois swaps especulativos na Carris.

E defendeu que “em momento algum a administração teve intenção especulativa ou qualquer outra visando melhorar de forma artificial os resultados da empresa”.

Os dois swaps que o IGCP concluiu serem especulativos foram comercializados pelo Santander e apresentavam, no final do ano passado, perdas potenciais conjuntas de mais de 50 milhões de euros. Foram subscritos em 2006 e 2007.

Ex-presidente diz que “não encontra razões para a sua demissão”
O ex-presidente da Metro de Lisboa/Carris afirmou ainda que “não encontra razões para a [sua demissão], oficializada em Junho deste ano.

Perante os deputados, o gestor (que iniciou este semana funções no grupo privado Barraqueiro) falou de “razões políticas” para a decisão tomada pelo Governo e que lhe foi comunicada numa reunião que ocorreu a 31 de Maio e que contou com a presença da actual ministra das Finanças e do secretário de Estado das Infra-Estruturas, Transportes e Comunicações.

“Por que motivo foram estes gestores e não outros?”, questionou Silva Rodrigues, acrescentando que “foi sempre um grande mistério”, até porque nunca lhe foi dado acesso ao relatório produzido pelo IGCP e que concluiu que existiam dois swaps especulativos na Carris, presidida por Silva Rodrigues entre 2003 e 2012. O responsável assumiu a liderança da Metro de Lisboa/Carris em Agosto do ano passado, na sequência da fusão das duas transportadoras públicas.

O gestor disse ainda que a subscrição deste tipo de derivados “não é uma decisão do presidente, mas sim do conselho de administração”, frisando que a equipa de gestão “não cometeu nenhuma ilegalidade, irregularidade, não escondeu informação”.

Recorde-se que, tal como o PÚBLICO noticiou esta semana, Silva Rodrigues pondera avançar para tribunal para contestar a sua demissão. Para já, está a preparar um processo contra a Refer, empresa onde tinha um lugar de reserva e que recusou a sua reintegração quando foi afastado da presidência da Metro de Lisboa/Carris.

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