G20 em desacordo quanto a políticas para crescimento global
Alemanha opõe-se a políticas de aumento da despesa pública.
As divergências entre as maiores economias do mundo tornam improvável que o encontro do G20 que decorre na China termine este fim-de-semana com um plano para estimular o crescimento global e acalmar a instabilidade nos mercados.
O influente ministro alemão das Finanças, Wolfgang Schäuble, opôs-se peremptoriamente à estratégia de aumentar a despesa pública para estimular a economia. “O modelo de crescimento assente em financiamento por dívida chegou ao limite”, afirmou nesta sexta-feira, em Shangai. “Não concordamos" com as medidas orçamentais sugeridas por alguns membros do G20, disse Schäuble, acrescentando que "não há atalhos que não sejam reformas”.
Já o responsável pelas finanças francesas preferiu colocar a responsabilidade sobre outros países, descartando uma acção concertada. “Definitivamente não estamos a falar de um estímulo orçamental. Não estamos aí de todo. Em França, não temos os meios para fazer isto agora. Outros países têm mais capacidade e podem usar essa capacidade para apoiar o crescimento global”, afirmou Michel Sapin, citado pelo jornal Financial Times.
O FMI, por seu lado, e tal como tem vindo a fazer, voltou a avisar para os riscos de abrandamento global, apontando as dificuldades de crescimento em vários países desenvolvidos – como é o caso dos europeus – e as quebras de ritmo nas economias emergentes. Ainda assim, Christine Lagarde, que foi recentemente nomeada para um novo mandato à frente do fundo, mostrou algum optimismo nas declarações desta sexta-feira: “Ainda estamos num ambiente em que há crescimento, e consigo perceber porque é que alguns agentes estão agora a dizer que há um excesso de reacção dos mercados", afirmou, de acordo com a agência Bloomberg.
Os sinais de abrandamento global têm abundado. A China – que assistiu em meados do ano passado a uma derrocada bolsista – está a ter um crescimento abaixo do previsto, à medida que a economia transita de um modelo fortemente assente em produção e investimento público, para um modelo de consumo e serviços, mais próximo das economias maduras. O Brazil, depois de um período de crescimento, está a braços com um deteriorar das finanças públicas (a que se junta uma crise política). O preço do petróleo está em níveis historicamente baixos e a abundância de oferta deverá continuar pelo menos ao longo de 2017, criando dificuldades a empresas e a vários países. A procura por matérias-primas está a retrair-se. E o volume do comércio global, noticiou esta sexta-feira o Financial Times, caiu pela primeira vez desde 2009.
A Alemanha é um dos países que parece confortável com a actual situação. A economia cresceu 1,7% no ano passado e as finanças públicas registaram o maior excedente orçamental desde a reunificação, uma situação que preocupa a Comissão Europeia, que já recomendou ao Governo que intensificasse o investimento público.
Os ministros das Finanças do G20, bem como os representantes dos bancos centrais, estão numa série de sessões de debate na China e é esperado que os países emitam um comunicado conjunto neste sábado.