Fraude na Gowex faz empresas “fugirem” da bolsa alternativa espanhola
Fornecedora de serviços de internet sem fios falsificou contas durante quatro anos.
A razão é simples: nenhuma quer ser encarada pelos investidores com as mesmas lentes que a fornecedora de serviços de internet wi-fi e nenhuma quer continuar a perder dinheiro, já que o caso da Gowex contagiou várias empresas do sector tecnológico e reflectiu-se nas cotações.
“Há claramente um prejuízo reputacional” no caso da Gowex, disse à Reuters a analista da corretora Renta, Nuria Alvarez. Já o fundador da rede social espanhola Tuenti não hesita em comparar o caso a um “Madoff à espanhola”. “O que a Gowex fez é muito mau para o sector tecnológico, porque o maior problema das empresas europeias é o acesso a liquidez e, por isso, o facto de mercados como o MAB poderem perder credibilidade, é a pior coisa que pode acontecer”, afirmou Zaryn Dentzel.
Em xeque parece ficar também a qualidade da supervisão deste mercado financeiro espanhol, que é repartida entre o operador do mercado (BME) e o regulador do mercado de capitais (CNMV). O receio é que que o facto de uma situação destas ter sido possível leve os investidores, e em particular os investidores estrangeiros, a pensarem duas vezes antes de investirem em activos espanhóis.
Até há pouco, a Gowex era uma verdadeira história de sucesso do sector tecnológico. A empresa, que diz estar presente em 91 cidades em todo o mundo, nas quais vende serviços de roaming, publicidade online e e-commerce, viu a sua cotação subir dos 1,2 euros em Julho de 2012 para os máximos de 26,34 euros registados em Abril de 2014 com a notícia da assinatura de novos contratos.
Em contrapartida, bastaram dois dias (na semana passada) para que as acções caíssem 60% e a empresa perdesse 870 milhões de euros do seu valor de mercado. Tudo porque uma firma de research da área da tecnológica, a Gotham City, veio a público dizer que a Gowex estava a camuflar as contas. Na quinta-feira, o regulador do mercado de capitais viu-se forçado a suspender a negociação dos títulos em bolsa e o fundador e presidente executivo da empresa, Jenaro Garcia, acabou por confessar a ilegalidade das contas. Finalmente, no domingo, ficou a saber-se que a empresa iniciou o processo de insolvência.
Segundo a Reuters, além de Jenaro Garcia (que se demitiu), na lista de accionistas da empresa contavam-se a Lazard Asset Management, a JPMorgan Asset Management, o Santander Asset management, o Vanguard Group e a Allianz Global Investors Europe, além de milhares de pequenos accionistas, que poderão ter perdido grande parte do dinheiro que aplicaram na empresa.
Quem já se veio demarcar da actuação da gestão foram os trabalhadores da empresa que, em comunicado, garantiram estar “chocados” e manifestaram a intenção de tomar medidas como “parte afectada e vítimas desta situação”.