Retoma moderada na Europa, mas ainda com risco de 20% de deflação

Previsões de Primavera do FMI põem Portugal e a zona euro a crescerem ao mesmo ritmo: 1,2% em 2014 e 1,5% em 2015.

Foto

As previsões de Primavera do Fundo Monetário Internacional (FMI) publicadas esta terça-feira pouco alteram as previsões feitas para a economia da zona euro em 2014 e 2015. Apenas mais 0,1 pontos percentuais, apostando agora num crescimento de 1,2% em 2014 e 1,5% em 2015. A aceleração da Alemanha e da Espanha são os principais motivos para esta revisão. No caso de Portugal, o relatório confirma as previsões já publicadas pelo Governo e a troika no final da 11.ª avaliação do programa e que apontam para um crescimento económico de 1,2% este ano e de 1,5% em 2015, curiosamente os mesmo valores que são previstos para a zona euro como um todo.

Para a economia mundial como um todo, o Fundo aponta para um crescimento de 3,6% este ano e de 3,9% em 2015, uma ligeira correcção em baixa de 0,1 pontos percentuais face às projecções divulgadas em Janeiro. O Fundo traça um cenário de deterioração das condições em vários países emergentes (a Rússia é um dos países com uma revisão mais profunda das suas expectativas face a Janeiro), que é parcialmente compensada por uma aceleração mais rápida das economias avançadas.

Mas se é verdade que a zona euro é uma das regiões que até contribuiu de forma positiva para a evolução das previsões do FMI, o que se destaca ao longo do relatório apresentado em Washington é um repetido alerta para os riscos que a economia europeia corre actualmente e para o facto de ser esta uma das regiões do Globo onde as coisas podem acabar por correr mal. "A actividade mundial melhorou durante a segunda metade de 2013 e espera-se que melhore ainda mais em 2014 e 2015. Este impulso veio principalmente das economias avançadas, embora as suas recuperações continuem a ser desiguais", resume o relatório, salientando que as principais preocupações entre as economias avançadas estão "nos riscos de inflação baixa e de crescimento lento prolongado, especialmente na zona euro".

De facto, a ameaça de deflação na Europa continua a ser uma das grandes preocupações do FMI em relação à actual conjuntura económica mundial. O fundo calcula que na zona euro existe neste momento uma probabilidade próxima de 20% de reentrada em recessão e de queda na armadilha da deflação. Neste momento, a zona euro é de longe o ponto do globo onde estes riscos são mais acentuados, estima o FMI, que continua a apelar a que o BCE adopte uma política monetária que inclua novas descidas de taxas de juro e outras medidas não convencionais de estímulo.

Na conferência de imprensa que se seguiu à apresentação das novas previsões, o economista-chefe do FMI voltou a enviar recados a Mario Draghi e os seus pares. "Espero que eles implementem [políticas] assim que estejam preparados tecnicamente. É melhor que seja mais cedo do que mais tarde", disse Olivier Blanchard.

No relatório, o Fundo fez questão de explicar de forma pormenorizada quais os riscos que a economia europeia corre se deixar as expectativas de preços das famílias e das empresas caírem de forma acentuada: "taxas de juro reais mais elevadas, peso da dívida agravado e crescimento mais baixo". E avisa que são os países periféricos da zona euro, como Portugal, que podem sofrer mais. "Nos países que precisam de melhorar a sua competitividade, e onde os preços e os salários precisam de descer mais face aos outros países da zona euro, isto iria provavelmente significar mais deflação e ainda efeitos adversos mais fortes no crescimento", afirma o relatório.

Para a zona euro, o FMI faz ainda outras recomendações de políticas. Embora reconheça que houve “alguns progressos na resolução do legado da crise” e assinale que “a confiança dos mercados tem estado a melhorar”, o Fundo diz que ainda é preciso “reparar os balanços dos bancos”, “completar a união bancária” e “dar mais apoio à procura”. Neste último ponto, para além de pedir mais medidas ao BCE, não exclui uma política orçamental mais expansionista, caso seja necessário. “Se o crescimento baixo persistir e as opções de política monetária estiverem esgotadas, a política orçamental pode ter de usar o espaço de manobra existente dentro do actual enquadramento orçamental para apoiar a actividade económica”, conclui o relatório.

Sugerir correcção
Comentar