Fidelidade sobe oferta sobre ES Saúde, que já vale mais 50 milhões com a OPA

Seguradora subiu o seu próprio preço na OPA para 4,82 euros por acção. “Não nos basta ser uma empresa que vende seguros”, diz o presidente da Fidelidade.

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A CGD detém 15% da Fidelidade Gonçalo Português
Os chineses da Fosun tinham oferecido 4,72 euros, mas subiram o seu próprio preço, antecipando-se à concorrência ao elevarem a parada em dez cêntimos (o valor mínimo que os concorrentes tinham de oferecer). Agora, se os mexicanos do grupo Ángeles (que começaram a corrida) quiserem manter-se no duelo têm de propor, pelo menos, 4,91 euros.
Em declarações enviadas ao PÚBLICO, o presidente executivo da Fidelidade, Jorge Magalhães Correia, justifica a revisão da oferta com três razões. Primeiro, diz, porque o preço se justifica face aos “critérios de avaliação” feitos pela empresa, “considerando nomeadamente a significativa receita adicional que podemos aportar aos hospitais”. Depois, para “reiterar” o empenho na oferta.  Por fim, destaca que “existe uma oferta pública no mercado mas ao mesmo tempo uma oferta privada [a da Amil/Unitedhealthcare sobre a Rioforte, que domina a empresa que detém 51% da ES Saúde]”.

Para Magalhães Correia, foi considerado o facto de se verificar esta “situação insólita”, defendendo que “a oferta privada não protege os accionistas”. A proposta feita à Rioforte, vinca, não beneficia de um sistema de “revisão em alta transparente” e “apenas introduz ‘ruído’”. Com a OPA à ES Saúde, a Fidelidade quer passar a ter “uma oferta integral em seguros de saúde, hospitais, clínicas, medicina ocupacional e preventiva e noutros serviços de saúde e assistência”. Sobre o impacto financeiro da OPA na Fidelidade, Magalhães Correia diz que “as seguradoras são geradoras de importantes fluxos de caixa” e que, por isso, não vai precisar de recorrer a financiamento. “Não nos basta ser uma empresa que vende seguros de saúde de acidentes de trabalho”, sublinha.

O registo foi oficializado nesta sexta-feira à noite, pouco antes de terminar o prazo legal, e depois de os ministérios da Saúde e Finanças terem assinado o despacho que autoriza a eventual transferência da gestão do Hospital Beatriz Ângelo para a Fidelidade (tal como já acontecera no caso da Ángeles). Este hospital, situado em Loures, está na esfera da ES Saúde em regime de Parceria Público-Privada (PPP), pelo que as empresas querem ter a certeza que o Governo não coloca obstáculos ao negócio. O despacho foi emitido esta sexta-feira.

Contactada pelo PÚBLICO, fonte  oficial do Ministério da Saúde afirmou que “os termos do despacho ficam reservados para os seus destinatários”.

Com o registo da oferta, a Fidelidade ultrapassa largamente os mexicanos da Ángeles que, já num segundo momento, tinham subido a parada para os 4,5 euros. Agora, seguem-se duas semanas (até 10 de Outubro) durante as quais se poderá assistir a um verdadeiro duelo, em forma de leilão, pelo domínio da ES Saúde. No entanto, o facto de a Fosun ter subido a parada que ela própria tinha proposto pode limitar a capacidade de intervenção dos mexicanos. Os chineses estão agora a oferecer mais 50 milhões de euros do que propunham inicialmente os mexicanos da Ángeles quando lançaram a OPA. Com a oferta de 4,82 euros por acção, a Fidelidade coloca a valorização da dona dos hospitais da Luz (Lisboa) e de Loures em 460,5 milhões de euros.

Para além da Fosun, a Fidelidade conta entre os seus accionistas com a CGD, que tem 15% do capital e poderá assim voltar ao negócio dos hospitais após ter vendido a HPP à Amil (agora detida pela UnitedHealth). Além disso, há ainda 5% que vão ser vendidos aos trabalhadores através de uma Oferta Pública de Venda (OPV),  de acordo com a lei das reprivatizações. Essas acções serão vendidas com 5% de desconto entre 29 de Setembro e 10 de Outubro, e as que não forem compradas podem ser adquiridas pela Fosun.

Para já, a José de Mello Saúde (JMS), que lançou uma OPA concorrente após os mexicanos da Ángeles terem dado o primeiro passo, surge como um concorrente afastado.

A empresa presidida por Salvador de Mello voltou nesta sexta-feira a defender que o prazo dado para o registo era demasiado curto, tendo em conta que precisa da luz verde da Autoridade da Concorrência (AdC) e que não podia prescindir desse passo. Para a CMVM, ou a JMS deixava cair a análise da AdC ou tinha de esperar pela sua decisão, enquanto a JMS pedia para o registo avançar com a análise da AdC pendente.  A JMS diz discordar da posição da CMVM, “pelo que mantém o seu pedido de registo de OPA concorrente”, e aguarda “a respectiva resposta” do regulador.

Com Alexandra Campos e Pedro Crisóstomo

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