Exportações resistem a crise europeia, com mais de metade da subida a vir dos combustíveis
As exportações aceleraram no final de 2013 e garantiram crescimento de 4,6% em ano de recessão na Europa. Mas os dados do INE mostram que também há motivos para preocupações.
De acordo com resultados divulgados esta segunda-feira pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) para a totalidade de 2013, as exportações de mercadorias (os dados dos serviços não são ainda conhecidos) cresceram 4,6% face a 2012. O resultado é menos forte do que os dos três anos anteriores, mas ocorreu numa altura em que algumas das economias europeias para onde Portugal costuma vender mais estiveram em recessão. Na fase final do ano deu-se uma aceleração (em Dezembro o crescimento foi de 8% em termos homólogos), que acompanha a melhoria também registada no ritmo de actividade económica na União Europeia.
As importações cresceram 0,8%, o que significa que o saldo comercial voltou a melhorar e que a taxa de cobertura (o valor das exportações em percentagem do valor das importações) continuou a subir. Em 2013, este indicador foi de 83,6%. Em 2012 tinha sido de 80,6% e em 2010, antes da crise ter afundado as importações, era de 63,5%, menos 20 pontos percentuais do que agora. De acordo com as estimativas já realizadas pelo Banco de Portugal para a totalidade das exportações (incluindo serviços), o desempenho do ano passado representa um novo ganho de quota de mercado internacional para o país.
Foram este tipo de resultados levaram Paulo Portas, há uns meses atrás, a falar de 2013 como “o melhor ano de sempre” para as exportações portuguesas. E que têm feito os responsáveis do Governo e da troika usarem com frequência estes indicadores como a prova de que a economia portuguesa está a conseguir uma mudança estrutural que a conduz para um crescimento dito mais saudável, baseado não no consumo, mas sim nas exportações.
No entanto, olhando com detalhe para os números divulgados pelo INE, alguns indicadores lançam sinais de alerta que é impossível ignorar. O mais importante é o facto de um único produto, exportado quase na totalidade por uma única empresa, ter sido responsável por mais de metade da taxa de crescimento das exportações registada em 2013. A venda de combustível refinado para o estrangeiro aumentou 31,7% face a 2012, fazendo deste produto o segundo mais vendido a seguir à maquinaria e ultrapassando o sector automóvel, cujas vendas para o exterior, caíram 5%.
Se retirarmos da análise, as vendas de combustíveis realizadas tanto em 2012 como em 2013, as exportações de mercadorias portuguesas teriam crescido, não 4,6% mas 2,1%, o que significa que os combustíveis contribuíram com cerca de 55% do crescimento global das exportações. E se, na análise do saldo comercial, se retirar da análise tanto as exportações como as importações de combustíveis, a correcção do défice na troca de mercadorias reduz-se a apenas 50 milhões de euros, em vez dos mais de 1600 milhões de euros que se registaram contando com os combustíveis.
O que aconteceu foi que, no início do ano, a Galp criou uma nova unidade de produção, capaz de aproveitar com mais eficácia a matéria-prima importada e que permitiu que a empresa ficasse com mais produto para exportar. Além disso, como o consumo de combustíveis em Portugal diminuiu muito este ano, o “excedente” de produção encaminhado para a exportação aumentou ainda mais.
Este ganho de capacidade produtiva da Galp é para ficar, não se irá perder no próximo ano. No entanto, não é de esperar que se mantenham em 2014 taxas de crescimento idênticas nas exportações de combustíveis, podendo estas ainda ser mais afectadas se se verificar um aumento do consumo interno.
Outro sinal de alerta vem das importações. Depois de terem caído 5,2% em 2012, voltaram a subir este ano. Foi só 0,8%, um ritmo inferior ao das exportações, mas a darem mostras de reagir muito rapidamente a qualquer recuperação do consumo ou do investimento que se verifique em Portugal.
E o ano de 2013 ainda foi de contracção da procura interna. A dúvida que persiste é o que acontecerá às importações em 2014 se se confirmar a evolução mais positiva do consumo privado e do investimento que é prevista pelo Governo e pela troika. Se as importações também crescerem a tendência de redução do saldo comercial poderá estar sob ameaça.
Esse será o grande teste que a competitividade da economia portuguesa terá de passar no futuro: conseguir crescer sem voltar a registar défices externos como os do passado. Para já, o que está a acontecer, está em linha com o que ocorreu noutros países periféricos. Chipre, Espanha, Portugal e Grécia são os líderes na zona euro quando se olha para o crescimento das exportações e são também os países em que as importações mais caiem. É o cenário normal num país em que a procura interna se afundou devido à austeridade e as empresas tiveram de encontrar no exterior novos mercados para sobreviver.
Alguns sectores, como o calçado que viu as suas vendas crescer 7,8%, disparando nos mercados extracomunitários, dão sinais positivos daquilo que pode vir a ser o futuro. Mas noutros sectores importantes, como o automóvel ou das máquinas, as razões para optimismo são bem menores.