Exportações de azeite disparam 40% e já valem mais de 161 milhões de euros
A produção nacional de azeite atingiu, na última campanha, o valor mais alto desde os anos 1967 e 1968: 76.203 toneladas que ajudaram a estimular o ímpeto exportador do sector. Entre Janeiro e Agosto deste ano, as vendas internacionais dispararam 40%, em comparação com o período homólogo de 2011. E já valem mais de 161 milhões de euros. Este é também o melhor resultado de sempre, 88% superior às vendas para o estrangeiro conseguidas, por exemplo, em 2006.
"Há cinco anos, ninguém teria imaginado que seria possível este crescimento. A forma como os indicadores dispararam não era expectável", admite Mariana Matos, secretária-geral da Casa do Azeite, Associação do Azeite de Portugal.
O investimento no olival que tem sido feito nos últimos anos, sobretudo no Alentejo, está a ter efeitos práticos na balança comercial, que, pela primeira vez, tem saldo positivo. Mariana Matos diz que a produção vai aumentar ainda mais quando o novo olival plantado der frutos. "Em Junho de 2011, havia intenções de plantar mais 6309 hectares de olival. Ainda há milhares de hectares para entrar em produção", garante.
Mais de 62% de toda a produção nacional está no Alentejo, que passou de 14.854 toneladas em 2004 para 47.278 o ano passado. Com mais azeite no mercado, as vendas para o estrangeiro cresceram entre Janeiro e Agosto deste ano. E não foi pouco.
"Este aumento acontece em grande parte devido ao Brasil", começa por explicar Mariana Matos. Dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior brasileiro, citados pela Casa do Azeite, mostram que nos primeiros oito meses de 2012 as compras a Portugal aumentaram 28,6%, para 27.816 toneladas. Espera-se que, no final do ano, haja subidas, já que "as grandes exportações são feitas no Natal, quando acontece o pico máximo".
O Brasil compra 40% do azeite que consome a Portugal. Segue-se Espanha (o maior produtor europeu), a quem comprou 11.200 toneladas entre Janeiro e Agosto (7,8% de aumento) e Itália.
De acordo com dados do INE, no bolo total das exportações portuguesas, o Brasil pesa 57% em valor. Os primeiros oito meses do ano renderam 93 milhões de euros em vendas para este mercado, mais 35% face ao período homólogo. Os maiores operadores como a Sovena (dona da Oliveira da Serra) e a Gallo Worldwide há muito encontraram no Brasil um destino rentável para os seus produtos.
Azeite a granel para ItáliaO crescimento das vendas internacionais foi transversal a quase todos os principais mercados onde o sector nacional opera, com excepção da Venezuela e dos Estados Unidos. "As exportações não se mantêm estáveis. Em 2011 atingiu-se um pico", explica Mariana Matos, referindo-se aos EUA, país que pondera impor restrições às importações de azeite para estimular a produção local (ver caixa).
Espanha é o segundo destino do azeite português e atingiu em 2011 o valor mais alto dos últimos cinco anos (40,3 milhões de euros). Até Agosto de 2012 cresceu 50% em comparação com os primeiros oito meses do ano passado, para 33,4 milhões. Já as vendas para Itália (terceiro mercado) dispararam para 8,7 milhões até Agosto, contra os 1,7 milhões conseguidos em 2011. É também o melhor desempenho desde, pelo menos, 2006.
De acordo com Mariana Matos, este é um fenómeno novo, até porque a maior parte do azeite vendido a Espanha e Itália é a granel e não-embalado. "Sai do Alentejo em grande quantidade em direcção a Espanha e Itália", descreve.
Há empresários espanhóis que vêm a Portugal comprar directamente e empresários portugueses que apostam neste nicho de mercado e escoam a produção para os maiores produtores europeus. Além disso, "o mercado italiano é muito deficitário e o preço do azeite é sistematicamente mais elevado do que em Espanha e Portugal. Assim, apesar das vendas serem a granel, é um bom negócio", analisa Mariana Matos.
As marcas italianas, reconhecidas e valorizadas em mercados como os Estados Unidos, fazem o loteamento (junção de vários lotes de azeite) com produto de origem italiana e portuguesa. "Na prática, podemos comprar uma marca italiana com produto português", aponta. Depois das quedas sucessivas na produção que aconteceram depois da campanha de 1967/1968, o sector vive um momento áureo.
O auto-aprovisionamento chega, agora, aos 93%, contudo, a percentagem de cobertura das necessidades totais (consumo interno e exportações) ronda os 50%. Os produtores também se debatem com uma redução dos preços do azeite nos mercados internacionais e uma subida dos custos de produção.
O preço baixo, que não agrada aos agricultores, tem tido impacto nas prateleiras dos supermercados: o volume de vendas aumentou 3,4% entre 2010 e 2011, de acordo com dados da Nielsen apresentados pela Casa do Azeite. Em Portugal consomem-se 82 mil toneladas de azeite (2011) e a expectativa é que aumente para as 91 mil até 2020. Os preços também deverão sofrer subidas: devido às condições climatéricas e à seca, espera-se uma "grande quebra na produção", nomeadamente em Espanha. Os preços, diz Mariana Matos, "já estão a reagir a essa expectativa e sobem nos mercados internacionais".
Quanto ao futuro, as estimativas da Casa do Azeite para os próximos anos são de contínuo crescimento. No período entre 2016 e 2020 a previsão média é de um aumento nas exportações de 30% comparando com os anos 2011-2014. Até 2020, Portugal pode chegar às 98 mil toneladas, o que "não é de todo exagerado, mas não chega para as exportações".
Limitação às importaçõesPortugal já está a articular-se com outros países produtores de azeite da União Europeia para tentar travar uma possível restrição às importações de azeite que está a ser ponderada nos Estados Unidos. O mercado dos EUA é um dos mais importantes para Espanha e é o sexto para Portugal. Mariana Matos, secretária-geral da Casa do Azeite, sublinha que esta restrição vai afectar "particularmente as exportações europeias".
"A defesa dos interesses europeus nesta matéria passa por uma acção diplomática da UE, concertada com os Estados-membros produtores e com o Conselho Oleícola Internacional (COI)", sublinha. Os Estados Unidos são o principal mercado importador do mundo e compram no estrangeiro perto de 300 mil toneladas de azeite. Ao limitar as importações, o Governo americano espera impulsionar a produção local de pouco mais de 10 mil toneladas.
"A possível publicação nos Estados Unidos de uma marketing order para o azeite vai implicar uma série de procedimentos administrativos que prejudicarão muito as exportações para aquele mercado", defende a secretária-geral da Casa do Azeite. Esta medida, continua, é uma "barreira comercial". "São os produtores de azeite da Califórnia que estão a pressionar as autoridades americanas, embora só representem cerca de 2% do azeite que se consome nos EUA", acrescenta.
Nos primeiros oito meses do ano em curso, Portugal exportou para este país 2,9 milhões de euros em azeite, uma queda de 8% em comparação com o mesmo período de 2011. Desde 2006, e até ao ano passado, as vendas para os Estados Unidos da América cresceram 8%.