Excedentes comerciais da Alemanha estão na mira de Bruxelas
Para os países do euro, a política alemã é considerada um dos grandes obstáculos à resolução da crise económica.
A confirmar-se, esta investigação resultará das previsões económicas avançadas na terça-feira pela Comissão que apontam para um excedente das contas correntes alemãs de 7% do PIB este ano, 6,6% em 2014 e 6,4% em 2015. Em paralelo, a balança comercial será de igual modo largamente excedentária e superior a 6% do PIB nos três anos em causa.
Estes resultados colocam os dois indicadores claramente acima do limiar de 6% do PIB durante três anos seguidos definido pela Comissão como um sinal da existência de um desequilíbrio macroeconómico que, por ser potencialmente perigoso para a estabilidade do conjunto da zona euro, tem de ser vigiado e corrigido logo que possível.
Este conceito de desequilíbrios macroeconómicos foi introduzido nas regras de gestão do euro já durante a actual crise da dívida, com base em dez indicadores precisos, de modo a permitir a Bruxelas detectar de forma precoce eventuais fontes de risco para a estabilidade do euro.
Se avançar com a investigação, Bruxelas terá de dirigir uma recomendação formal a Berlim para aplicar medidas destinadas a corrigir o desequilíbrio gerado pelos seus excedentes criados pela sua dependência unanimemente considerada excessiva face às exportações, essencialmente à custa de uma política de baixos salários para reforçar a competitividade.
Para os países do euro, a política alemã é considerada um dos grandes obstáculos à resolução da crise económica, já que a existência de excedentes importantes num país no interior de uma mesma zona monetária é geralmente feita à custa dos parceiros. Sobretudo as economias dos países mais vulneráveis, como Portugal, Grécia, Espanha ou Itália, precisam desesperadamente do mercado importador alemão para poderem esperar voltar a crescer.
A solução geralmente apontada para o problema dos excedentes passa pela adopção de estímulos à procura interna, nomeadamente através de aumentos salariais e da fixação de um salário mínimo para permitir aos alemães aumentar o consumo – das exportações dos vizinhos.
Olli Rehn, comissário europeu responsável pelos Assuntos Económicos e Financeiros, não confirmou a abertura da investigação, mas afirmou na apresentação das suas previsões económicas que Berlim deverá fazer os possíveis para eliminar "o que bloqueia o crescimento da procura interna".
O Governo alemão tem recusado estes apelos, afirmando que o país não tem desequilíbrios que precisem de ser corrigidos, tem registado um aumento "robusto" dos salários, do consumo das famílias e do investimento.
"Se a Alemanha e a França aplicarem juntas as recomendações [europeias], prestarão um grande serviço ao resto da zona euro e ao seu crescimento e ao emprego", afirmou Rehn, referindo-se aos estímulos à procura interna esperados de Berlim e à consolidação orçamental pedida a Paris.