Frente Comum diz que adesão à greve mostra que previsões do Governo “não valem nada”

Consultas e cirurgias canceladas, escolas fechadas, tribunais com julgamentos adiados e autarquias e serviços públicos parados. Este é o cenário da greve desta sexta-feira, que voltou a juntar CGTP e UGT contra os cortes na função pública. Sindicatos falam em adesão entre os 70% e os 100% na recolha de lixo e nos hospitais e em taxas dos 50% a 100% nas escolas.

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Arménio Carlos, líder da CGTP Nuno Ferreira Santos
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Pelo terceiro ano consecutivo, Novembro é palco de uma greve da função pública (nos anos anteriores juntaram-se também os trabalhadores do sector privado) em protesto contra os cortes nos salários e nas pensões previstos para o próximo ano e contra o aumento do horário de trabalho. A greve desta sexta-feira foi marcada pelos sindicatos da CGTP e da UGT, que esperam uma adesão “correspondente à indignação” demonstrada pelos trabalhadores em relação às medidas do Orçamento do Estado (OE) para 2014.

Sobre as previsões de adesão à greve feitas pelo secretário de Estado da Administração Pública, Hélder Rosalino, em entrevista ao PÚBLICO, e que apontavam para uma adesão em tornos dos 20%, Ana Avoila considerou, assim, que “essas previsões não valem nada” e que o Governo terá de retirar “as suas próprias ilações”.

“Esta greve é, seguramente, uma das greves com maior adesão realizada nos últimos anos, não vamos dizer que será a maior, mas é seguramente a maior greve de sempre dos últimos anos”, disse Ana Avoila numa conferência de imprensa destinada a apresentar os números da adesão à greve na Administração Pública, que começou à meia-noite de sexta-feira.

Saúde, educação e autarquias locais eram os sectores mais afectados até às 12h00 e a Frente Comum espera que os números se mantenham ou até aumentem durante a tarde. “Esperávamos uma grande adesão à greve, sabemos do descontentamento e sabemos que mesmo com grandes dificuldades as pessoas preferem lutar pela sua estabilidade no emprego, pela defesa das funções sociais do Estado e foi isso que aconteceu”, afirmou Ana Avoila.

Também o secretário-geral da UGT, Carlos Silva, salientou a “fortíssima mobilização” perante a “carga pesadíssima” que recai sobre estes trabalhadores. À saída de uma reunião com o secretário de Estado dos Transportes, que decorreu no Ministério da Economia, Carlos Silva, afirmou que a adesão se reflectiu no encerramento de muitos serviços públicos. <_o3a_p>

“Isto significa que as pessoas da Administração Pública, seja ela Central ou Local, compreenderam a mensagem, aderiram. (Houve) uma fortíssima mobilização”, declarou o líder sindical. Questionado sobre os números da adesão, sublinhou que o essencial não são as percentagens, e sim “a noção de que há hoje na sociedade portuguesa uma fortíssima sensibilidade para matérias que atacam todos os portugueses, mas penalizam mais uns do que outros”.

CGTP fala em "resposta à altura do Governo"
Num primeiro balanço, o secretário-geral da CGTP, Arménio Carlos, tinha já considerado que a greve está a ter uma das maiores adesões dos últimos anos, traduzindo uma “resposta à altura” dos trabalhadores face às políticas do Governo. “Trata-se de uma enormíssima adesão de todos os serviços, escolas, finanças, segurança social, autarquias [...]. As coisas estão a correr bem e vão continuar. Estes trabalhadores e trabalhadoras estão todos os dias a ser mal tratados pelo Governo”, disse o líder sindical. Arménio Carlos insistiu que a única solução nesta altura é a demissão do Governo e a mudança de políticas.

Já o Sindicato dos Quadros Técnicos do Estado (STE) destaca uma adesão entre 60% e 100% na generalidade dos serviços onde tem representantes. Num comunicado divulgado perto do meio-dia, o sindicato destaca a participação dos trabalhadores das Finanças, escolas, serviços de saúde, autarquias e justiça.

“Os trabalhadores estão em grande maioria, em greve, pagando com um dia de salário o direito de dizerem que o caminho que está a ser seguido só leva a mais empobrecimento”, refere o comunicado da estrutura da UGT que é liderada por Bettencourt Picanço.

Quanto à Frente Sindical para a Administração Pública (Fesap), também da UGT, só fará um balanço geral da greve a meio da tarde.

O Sindicato de Trabalhadores da Administração Local classificou a adesão como “esmagadora”, frisando que em muitos serviços como a recolha do lixo, transporte municipal, oficinas e escolas está a ser de 100%.“Durante a noite os números foram entusiasmantes. Houve locais de trabalho que subiram em relação à greve geral, [um fenómeno] que era impensável. Os dados da manhã também aprofundavam esse sinal. Tudo se inclinava para ser uma grande greve no sector da administração local”, disse o presidente do STAL, Francisco Brás, à agência Lusa.

Reacções dos partidos
Também o secretário-geral do PCP elogiou a “grande resposta” dos trabalhadores, interpretando-a como um "não" às políticas escolhidas pelo Governo da coligação PSD/CDS-PP. “A esta ideia de que tem de ser assim... hoje, os trabalhadores da função pública dão uma grande resposta: ´não, não tem de ser assim, há outro caminho’”, afirmou Jerónimo de Sousa.

O secretário-geral do PS manifestou-se solidário com os motivos da greve e sublinhou que “compete aos trabalhadores” definirem quais “as formas de luta que consideram mais adequadas. Para António José Seguro, os trabalhadores “têm fortes razões para se manifestarem” e o Partido Socialista respeita “a independência do movimento sindical”.

Consultas e cirurgias adiadas
No sector da Saúde, a manhã foi de confusão em hospitais e centros de saúde um pouco por todo o país, com adiamentos de consultas, tratamentos, exames e cirurgias. Tanto o Sindicato dos Enfermeiros Portugueses como a Federação Nacional dos Sindicatos da Função Pública falam numa adesão a rondar os 70 a 80%, mas houve grandes variações de instituição para instituição.

A Federação Nacional dos Médicos não quis apresentar balanços nesta sexta-feira, tal como o Ministério da Saúde, que reservou a divulgação de dados da adesão após o processamento de salários, dentro de alguns dias.

Escolas afectadas em todo o país
Na Educação, a Federação Nacional da Educação (FNE) fala numa greve com "proporções superiores" em relação a outras no sector, enquanto a Federação Nacional dos Professores (Fenprof) avança que terão encerrado a nível nacional cerca de 70% a 80% dos estabelecimentos de ensino não superior. Dados que vão sendo actualizados no site da Fenprof mostram dezenas de escolas fechadas na Grande Lisboa, zonas Centro e Sul do país e Açores.

Vários tribunais fechados
A greve está a obrigar ao adiamento de inúmeros julgamentos, com vários tribunais fechados ao público um pouco por todo o país. A informação é confirmada pelo presidente do Sindicato dos Funcionários Judiciais (SFJ), Fernando Jorge, e pelo responsável do Sindicato dos Oficiais de Justiça, Carlos Almeida.

Ponte de Lima, Viana do Castelo, Águeda, Valença, Vila Nova de Cerveira, Faro, Loulé, Mirandela, Lourinhã, Torres Novas, Penafiel, Vila Real de Santo António, Cuba, Arraiolos, Avis, Vila Nova do Foz Côa, Vieira do Minho, Albergaria-a-Velha e Figueira de Castelo Rodrigo são alguns dos tribunais que registam adesões de 100%.

Apesar de estarem fechados ao público, os tribunais continuam a assegurar os serviços urgentes, como interrogatórios de arguidos detidos e processos que envolvem menores em risco.

Entre os serviços mínimos fixados estão a apresentação de detidos, a realização de actos processuais indispensáveis à garantia da liberdade das pessoas, diligências relativas a processos com menores e providências urgentes ao abrigo da Lei de Saúde Mental.

Lixo por recolher
Do balanço feito de madrugada estavam encerrados os serviços de recolha de resíduos sólidos urbanos de Évora, Loures, Setúbal, Almada, Palmela, Funchal, Amadora, Braga, Moita, Viana do Castelo registando noutras zonas do país adesões superiores a 60% e 70 por cento. Em Lisboa (garagem dos Olivais), os serviços de recolha de lixo registaram 65% de adesão, enquanto no concelho de Vila Nova de Famalicão, situou-se nos 73% para o lixo e nos 100% para a limpeza de ruas. De acordo com os dados da Frente Comum, os serviços de bombeiros registaram uma adesão na ordem dos 100%, estando alguns destes serviços apenas a funcionar em serviços mínimos.

Embaixadas e consulados afectados
À Lusa, fonte do Sindicato dos Trabalhadores Consulares informou ainda que pelo menos onze consulados e três embaixadas portuguesas estão encerrados devido à greve e alertou para as consequências do encerramento do consulado de Portugal em Maputo.
 
Momento difícil para perder um dia de salário
Apesar da adesão à greve, os sindicatos na véspera diziam ter noção de que o momento é difícil e um dia a menos de salário faz diferença.

Nesta quinta-feira, o Sindicato dos Quadros Técnicos do Estado dava conta de casos de serviços que estavam a elaborar uma lista nominativa dos trabalhadores que fazem greve,  invocando um despacho governamental. Confrontada com estas situações, fonte oficial do Ministério das Finanças disse não ter conhecimento de qualquer dessas situações, mas sublinhou que “em qualquer caso seriam sempre ilegais e inadmissíveis”.
 
 

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