Em Ervidel, o correio divide o espaço com a fruta ou os legumes

Desde 2004 que a administração dos CTT tentava encerrar o posto na freguesia alentejana. O objectivo foi consumado em Julho e agora a população tem relutância em tratar de assuntos privados junto a quem compra hortaliça

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Correio a ser distribuído em Beja Rui Gaudêncio

O estado de espírito da comunidade de Ervidel, cerca de mil habitantes maioritariamente com idades acima dos 65 anos, é de inconformismo, “Não fazia mal nenhum ter aí os correios” sublinha Filipe Torres Vale Covo, de 73 anos. O seu companheiro de dois dedos de conversa, Gregório Baptista, com mais dois anos de vida e que, tal como ele, aproveitava o sol da manhã para “matar” o frio que o cobria de reumático, lembrava que “os correios e as escolas são coisas que fazem falta a um povo”.

Uma década de luta - e o seu frustrante resultado para a população de Ervidel - leva Francisco Lopes a interrogar-se: “ O que é que se ganha com a luta? Não ganhámos nada” concluiu. “Eles é que mandam”, resigna-se outro morador chocado pelo modo com “se joga com a vida das pessoas”.

Mais confiante está Manuel Nobre, que preside à comissão de luta pela reabertura da estação dos CTT. Descreveu ao PÚBLICO o historial dos acontecimentos que desde 2004 têm transtornado a vida das pessoas, revelando que foram várias as tentativas feitas para encerrar a estação de Ervidel e que foram travadas pela Anacom. No início de 2013 propuseram que fosse a Junta de Freguesia a assegurar os serviços, oferecendo 398 euros pelo pagamento de um funcionário a tempo inteiro.

“Depois demos com a abertura de uma loja dos CTT numa mercearia quase em frente da estação a quem pagam 500 euros” protesta Manuel Nobre, criticando a atitude dos responsáveis da empresa.

A população “vê com maus olhos” os constrangimentos que lhe foram criados, refere Manuel Nobre e a luta vai continuar “pela defesa do serviço público”.

Entretanto, as pessoas vão sendo confrontadas com a má qualidade do serviço prestado. “Não estou à vontade a levantar a minha reforma se, mesmo encostado a mim, aparece alguém a lançar o olho ao que recebo enquanto compra couves ou fruta” e “depois toda a aldeia fica a saber”, desabafa Gregório Baptista. Ou então, em alternativa, as pessoas têm de se deslocar a Beja ou Aljustrel, para receber a reforma ou pagar a luz, a água e os impostos. Se têm carro ou a boleia de amigos e vizinhos, a dificuldade não é grande. Mas se têm de utilizar o transporte público, que é escasso, perdem, pelo menos, uma manhã.

A proprietária da mercearia onde foi instalada a loja dos CTT diz apenas que já está “farta de tanta confusão”, recusando a adiantar mais pormenores sobre o serviço que presta num canto do estabelecimento, mesmo junto às prateleiras com latas de feijão, massas, batatas ou caixas de fruta.

A administração dos CTT já se comprometeu a rever a situação dos serviços dos correios em Ervidel, mas até o momento “nada aconteceu”, refere por seu turno, o presidente da Junta de Freguesia de Ervidel, Ildefonso Godinho, garantindo que a população contestará sempre a substituição dos serviços que servia as necessidades de uma população com cerca de mil pessoas que reclamam o direito a tratar dos seus assuntos “em sigilo e de forma recatada” conclui o autarca.

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