Comissão Europeia sabia de manipulação de testes de emissões desde 2013

Bruxelas foi avisada há dois anos que indústria automóvel contornava os testes de emissões.

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Centro de investigação europeu detectou discrepâncias entre laboratório e condução em estrada em 2011. REUTERS/Axel Schmidt

A Comissão Europeia sabia da existência da manipulação de testes de emissão de gases nocivos por parte de fabricantes de automóveis desde 2013.

A notícia é avançada pelo jornal britânico Financial Times, que revela correspondência entre comissários europeus, na qual o responsável pelo ambiente expressa “preocupações generalizadas” sobre a manipulação dos testes de emissões.

A informação revelada pelo FT mostra que a Comissão Europeia tinha conhecimento de que as emissões verificadas nos testes em laboratório não correspondiam às emissões verificadas nos testes de estrada e que tal assunto era objecto de debate interno.

Os documentos datam de 2013, ou seja, dois anos antes de as autoridades norte-americanas tornarem público que a Volkswagen contornou os testes de emissões. Os documentos não se referem a uma marca em particular.

Na carta que data de Fevereiro de 2013, o então comissário europeu do Ambiente, Janez Potocnik, escrevia ao comissário da Indústria, Antonio Tajani, que vários ministros da União Europeia acreditavam haver “discrepâncias significativas” entre as emissões verificadas nos testes e as registadas em condução real. O comissário referia a “preocupação generalizada” sobre o desempenho dos carros e a possibilidade de este ter sido desenhado à medida dos testes em laboratório.

Potocnik acrescentava ainda que esta seria a “razão principal” para que os padrões de qualidade do ar não encaixassem naqueles requeridos pela legislação comunitária.

Entre as medidas para aplicar à indústria automóvel sugeridas pelo comissário do Ambiente a Antonio Tajani estavam a retirada de aprovação de emissões a vários modelos de automóveis e a exigência de medidas de correcção aos seus construtores.

Apesar dos avisos do comissário Potocnik (que não quis comentar o assunto ao FT), Bruxelas não tomou medidas imediatas, permitindo à indústria automóvel manter os mecanismos de contorno dos testes até 2017.

O jornal britânico refere que a correspondência entre os dois comissários foi suscitada por uma carta da então ministra dinamarquesa do Ambiente, Ida Auken, que, em 2012, criticou o adiamento dos testes de emissões em estrada para 2017. Auken defendia que o calendário estabelecido era “inaceitável” e que a comissão deveria “agir assim que possível sobre esta crítica situação”.

Em resposta conjunta, os comissários Potocnik e Tajani defenderam a data apontada pela comissão, justificando que “em muitos casos [para cumprir as emissões em condução real] seria requerida a reformulação dos veículos a diesel”.

As discrepâncias entre emissões em laboratório e emissões em condução de estrada foram detectadas em 2011 pelo Centro de Investigação Conjunta da Comissão Europeia, escreve o FT.

Essas mesmas diferenças, relacionadas com o aumento de emissões de óxido de azoto, seriam detectadas por um estudo da Universidade de West Virginia em 2014, levando a Agência de Protecção ambiental norte-americana a revelar a manipulação dos testes de emissões pela Volkswagen em 2015.

O grupo alemão admitiu a responsabilidade e anunciou que vai começar a começar a recolher 11 milhões de viaturas no início de 2016. 8,5 milhões desses automóveis circulam na Europa. 

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