“Cerco” à PT aperta por causa de aplicação de 900 milhões na Rioforte
Acções da operadora caíram mais de 5% na sessão desta terça-feira e as implicações na fusão com a Oi parecem inevitáveis
Num comunicado divulgado no seu site, o Banco Nacional de Desenvolvimento do Brasil (BNDES) considerou que a aplicação na Rioforte, que vencerá em breve, é “inconsistente com padrões mínimos de boa governança corporativa”.
A responsabilidade pela decisão de investimento no papel comercial da Rioforte foi assumida na semana passada por Henrique Granadeiro, e pelo administrador financeiro da empresa, Luís Pacheco de Melo. Num comunicado enviado à CMVM, os gestores explicaram que a subscrição dos títulos da Rioforte fez-se através das subsidiárias PT International Finance e PT Portugal. Zeinal Bava, que é actualmente o presidente executivo da Oi é igualmente presidente da PT Portugal.
O BNDES diz ter solicitado “informações detalhadas sobre a referida aplicação” e acrescentava que “não considera nenhuma alternativa que não seja a preservação dos interesses dos accionistas da Oi, ao mesmo tempo que renova a sua confiança na actual gestão da companhia”, liderada por Bava.
Esta declaração surge já depois de outras entidades de peso terem colocado o dedo na ferida. O regulador de comunicações do Brasil (Anatel) decidiu que o organismo que supervisiona a concorrência no sector, a Superintendência da Competição, vai recolher mais dados para avaliar o grau de informação prestada aos accionistas da PT. E a Comissão de Valores Mobiliários, regulador de mercado brasileiro, admitiu ao Diário Económico estar a analisar a operação.
Antes, já a própria Oi tinha frisado que não foi informada sobre a aplicação na Rioforte. Aliás, dois administradores não executivos da operadora brasileira com assento na PT renunciaram mesmo aos cargos. Um deles, Otávio Azevedo, veio depois admitir publicamente, em declarações ao jornal brasileiro Valor Económico, que a renúncia se ficou a dever à operação de curto prazo.
A empresa liderada por Henrique Granadeiro acaba, assim, por sofrer danos colaterais da instabilidade que se vive no GES, que é seu accionista. Os impactos têm sido visíveis em bolsa, com as acções a encerrarem com uma queda superior a 5% na sessão desta terça-feira. Desde que a operação na Rioforte foi tornada pública pelo Expresso, a 26 de Junho, o valor dos títulos da PT caiu perto de 27%.
Nesta terça-feira, a imprensa brasileira referia que os termos da fusão com a Oi vão sofrer impactos profundos por causa desta polémica. O Broadcast, da Agência Estado, escrevia mesmo que a PT poderá ver a participação na empresa que resultar deste processo reduzida para metade.
Monteiro de Barros renuncia
Nesta terça-feira, a administração da Espírito Santo Financial Group (ESFG) teve uma nova baixa, com a renúncia de Patrick Monteiro de Barros. De acordo com um comunicado da holding, que detém 21,5% do BES, a decisão de renúncia ao conselho de administração tem “efeitos imediatos”.
Monteiro de Barros era um dos nomes indicados para o conselho estratégico do banco, cuja composição não está ainda fechada. A sua saída da ESFG segue-se à renúncia, a 24 de Junho, de José Maria Ricciardi, primo de Ricardo Salgado, que se mantém como presidente do banco de investimento BESI.
O Diário Económico noticiou nesta terça-feira que o Banque Privee Espírito Santo, um gestor de fortunas detido a 100% pela ESFG, reconheceu o atraso no pagamento das últimas maturidades de títulos de curto prazo da Espírito Santo Financial (ESI) com um “pequeno número de clientes”.
Isto depois de o Expresso ter publicado na segunda-feira um extracto de conta de um cliente do Banque Privée, com uma aplicação de 150 mil euros, onde se via que o investimento na ESI não valia nada à data de vencimento, a 26 de Junho de 2014. Na altura, o gestor de fortunas justificou-se alegando que se trata de um atraso e que a palavra default associada ao email resultou de um erro informático.
As acções do BES também continuam em queda livre, tendo desvalorizado quase 10% na sessão desta terça-feira para 0,645 euros. Apesar de os títulos terem recuperado ligeiramente quando foi conhecido o nome de Vítor Bento, até agora presidente da SIBS, para substituir Ricardo Salgado na presidência executiva do banco, e de João Moreira Rato (actual presidente do IGCP) para administrador financeiro, no último mês, a queda já supera os 41%. A nova comissão executiva irá a votos na assembleia geral de 31 de Julho. Com Ana Brito