Cavaco diz que não é a ele que cabe vigiar o Governo

Apesar da austeridade, “não há desestruturação social” em Portugal, acrescenta o Presidente

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Cavaco diz que é o Parlamento que tem de vigiar o Governo Daniel Rocha

"Apesar da austeridade, famílias em risco de pobreza, grande desemprego, vale a pena sublinhar que se mantém a coesão nacional, que não há desestruturação social no nosso país", afirmou o chefe de Estado, durante uma entrevista de cerca de meia hora ao programa "Prós e Contras" da RTP.

E, acrescentou, além de "não existir fragmentação social", o povo português tem manifestado um "grande sentido de responsabilidade". Contudo, reconheceu, "é fundamental que os sacrifícios sejam melhor distribuídos".

Na entrevista, o chefe de Estado voltou também a falar do período pós-troika, reconhecendo que se Portugal tiver de renegociar a dívida é porque "as coisas correram mal".

"Se Portugal tiver de renegociar a sua dívida é porque as coisas correram mal ao nosso país e então eu não tenho dúvidas que nós passaremos dias piores do que aqueles que estamos a passar neste momento", admitiu.

O chefe de Estado escusou-se, contudo a fazer uma comparação entre a situação actual e aquela que se vivia há dois anos, mas lembrou que os credores de Portugal dizem que a dívida é sustentável.

"Estão convencidos que Portugal conseguirá no futuro gerar produção para pagar os juros e para pagar os empréstimos", sublinhou Cavaco Silva, gracejando que não será ele a dizer coisa contrária.

Sem querer falar da acção concreta do Governo, Cavaco Silva notou, contudo, que de uma forma crescente o executivo tem vindo a reconhecer que ao lado das contas públicas é necessário colocar o relançamento da economia e a criação de emprego.

Por outro lado, acrescentou, o maior partido da oposição, até pelos encontros que tem realizado nos últimos tempos, "reconhece que é necessário estabelecer compromissos para o futuro".

Apontando o relançamento do investimento como essencial para Portugal reencontrar o caminho do crescimento económico e da criação do emprego, Cavaco Silva voltou a insistir na necessidade "encontrar formas mais fáceis e mais baratas de financiar em particular as pequenas e médias empresas".

E, nessa questão, também há responsabilidade do Banco Central Europeu, que devia fazer algo mais para que o crédito fosse concedido em condições mais favoráveis.

A "magistratura de influência" foi igualmente tema abordado na entrevista conduzida pela jornalista Fátima Campos Ferreira, com Cavaco Silva a insistir na necessidade do Presidente da República actuar com "muita ponderação, muito bom senso e com sentido nacional, verdadeiro sentido nacional".

Cavaco Silva reiterou igualmente que o chefe de Estado "não governa e não é responsável, nem tão pouco co-responsável pelas políticas do Governo", cabendo à Assembleia da República "vigiar" o Governo.

"O Governo não responde politicamente perante o Presidente da República, falta de confiança do Presidente da República não é razão suficiente para o Presidente eventualmente dissolver a AR", repetiu, sustentando que a chamada 'bomba atómica' só deve ser utilizada em situações "muito especiais".

"Eu já disse publicamente mais do que uma vez, por toda a análise cuidada e profunda que tenho feito, chego sempre à conclusão, juntando toda a informação que recebo de outras entidades internacionais que se nós tivéssemos uma crise política em Portugal, na situação que nos encontramos, os portugueses ficariam numa situação muito pior", referiu.