BES perdeu em dois dias 1,2 mil milhões de euros em capitalização bolsista

Mercado aguarda anúncio de plano de recapitalização.

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A suspensão aconteceu a pouco menos de uma hora do fecho do mercado, quando as acções perdiam 49,7%, para um mínimo histórico de 10 cêntimos, que elevava para 90% a perda desde o início do ano. O fecho foi ligeiramente acima, nos 12 cêntimos.

Em apenas dois dias, o banco perdeu 1,2 mil milhões de euros de capitalização bolsista, passando a ter um valor de 675 milhões de euros, abaixo do até agora quarto banco cotado no PSI 20, o Banif, que ainda assim tem uma capitalização acima dos mil milhões de euros.

O plano de recapitalização é a informação revelante que falta depois da apresentação de um prejuízo semestral de 3577 milhões de euros, de forma a cumprir os rácios legalmente exigidos, o que pode implicar uma injecção, segundo vários analistas, até quatro mil milhões de euros. O novo presidente executivo, Vítor Bento, e o Banco de Portugal já afirmaram que vão investigar as suspeitas de violações de normas legais.

O mercado está a admitir que um aumento de capital de tal grandeza, e em face das incertezas em relação a perdas que possam ainda aparecer pela insolvência em cadeia do Grupo Espírito Santo, poderá ter de ser feito apenas ou maioritariamente com fundos estatais. A ajuda estatal, de valores elevados, esvazia o capital existente, o que é bastante negativo para os accionistas, mas é positivo para os clientes particulares do banco, designadamente os depositantes.

O PÚBLICO já tinha noticiado na quinta-feira que a nova gestão do BES, o Governo e o Banco de Portugal estavam a estudar uma solução de recapitalização que envolvesse dinheiro público. O anúncio de uma solução poderá ser feito já neste domingo, ao final da tarde.

Foi esse tipo  de receio que levou os investidores a inundar o sistema com ordens de venda e a gerar uma queda que já ia em 49,7%, o que forçou a CMVM a determinar a suspensão até que seja divulgada nova informação, algo que puderá ocorrer no fim de semana.

Em declarações ao PÚBLICO, Gualter Pacheco, corretor do Banco Carregosa, nota que a decisão da CMVM foi tomada “quando a queda dos títulos já estava a ser muito forte”.  Este corretor destaca que depois da apresentação de resultados do banco que “superaram as piores expectativas”, a reacção negativa dos investidores era esperada, o que deixaria em aberto que as acções “pudessem ter sido suspensas” mais cedo.

Sem querer antecipar cenários sobre o plano de recapitalização do BES, Gualter Pacheco diz apenas que, a ser conhecida uma solução durante o fim-de-semana, a suspensão dos títulos em bolsa poderá ser levantada. Caso contrário, é expectável que os títulos continuem sem negociar na segunda-feira, para evitar que “continue este certo descontrolo das acções”, diz.

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Num dia cheio de más notícias, a divulgação de um comunicado a dar conta de que a Goldman Sachs vendeu cerca de 4,4 milhões de acções do BES, reduzindo a participação para menos de 2%, também não ajudou, tal como uma notícia da Agência Lusa. Amplamente divulgada nas redes sociais, a notícia dava conta de que “mais de 200 clientes do BES já pediram ajuda à ABESD por falta de reembolsos”. A notícia referia-se apenas a reembolsos de papel comercial, mas gerou outras leituras. O banco assumiu que paga no caso de investidores particulares. Já os investidores considerados qualificados ficam fora desta garantia.

Mais insolvências
Entretanto, já após o fecho do mercado, a ESFAG, comunicou o pedido de insolvência de mais duas empresas, que controla a 100%: a Espírito Santo Financière (ESFIL), e a ESF(P) - Espírito Santo Portugal , SGPS.

O pedido de protecção de credores da ESFIL, que controla os bancos BPES Polónia e BPES Dubai, vai correr no Luxemburgo, juntando-se à ESI, Rioforte e ESFG . Já o processo de insolvência da ESF(P) - que controla uma participação de 19,1% do BES - vai correr nos tribunais portugueses, ao abrigo do Código de Insolvência e Recuperação de Empresas (CIRE).

A queda a pique do BES arrastou a bolsa de Lisboa para uma queda de 3,04%, com forte contágio aos restantes bancos nacionais cotados. O BCP perdeu 5,7%,  o BPI 4,8% e o Banif 2,2%.

A queda do BES também teve reflexos nas restantes bolsas europeias, mas esse foi apenas um factor negativo a juntar ao default da Argentina e ao aumento de tensão gerado pelas sanções à Rússia.

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