BCE vai vigiar subida do euro nos mercados
Mario Draghi dá sinais de preocupação em relação ao efeito da apreciação da moeda única sobre a economia e a inflação.
Mario Draghi, que falou na conferência de imprensa desta quinta-feira que se seguiu à reunião do conselho de Governadores, foi, nesta questão da apreciação do euro, tão longe quanto se poderia esperar num presidente do BCE. Não deu sinais de que iria assumir uma política mais activa para controlar a subida do euro, dizendo mesmo que o seu valor actual está dentro da média de longo prazo da divisa, mas reconheceu que uma manutenção da tendência pode colocar em causa os objectivos do BCE, nomeadamente naquela que é a sua preocupação fundamental: a estabilidade de preços na zona euro.
"A taxa de câmbio não é um objectivo de política, mas é importante para o crescimento e a estabilidade de preços. E nós certamente queremos verificar se a apreciação se mantém e se temos de alterar a nossa avaliação de risco em relação à estabilidade de preços", disse Mario Draghi.
A estabilidade de preços - definida como uma taxa de inflação de médio prazo abaixo mas perto de 2% - é a única função atribuída ao BCE. No entanto, se o euro se apreciar muito face às outras divisas internacionais, isso pode provocar uma redução do crescimento da economia e, como consequência, uma diminuição da inflação para níveis abaixo daquilo que deseja o BCE. Na conferência de imprensa, Draghi citou a apreciação do euro como um dos riscos, em baixa, para a evolução da inflação.
O euro está hoje a valer 1,37 dólares, o nível mais alto dos últimos 15 meses, embora ainda longe dos 1,6 dólares que ultrapassou em 2008. A subida dos últimos meses levou a que o presidente francês, François Hollande, fizesse um apelo à adopção na zona euro de políticas mais activas para a limitação da apreciação da moeda única nos mercados internacionais. Em relação a essa declaração, Draghi limitou-se a responder que "se deve sempre lembrar que o BCE é independente".
Ainda assim, as declarações do presidente do BCE, mostrando alguma preocupação com a evolução da moeda, podem vir a ser interpretadas nos mercados como uma pré-disposição do BCE para actuar caso o euro suba mais, o que poderá vir a ter efeito na evolução próxima da divisa.
Na conferência de imprensa desta quinta feira - que se seguiu à esperada decisão de manter as taxas de juro inalteradas - dois outros temas dominaram a sessão de perguntas e respostas: a solução encontrada pela Irlanda para financiar o empréstimo ao banco irlandês Anglo Irish Bank e as perdas avultadas do banco italiano Monte dei Paschi.
Em relação, ao primeiro banco, Draghi desmentiu que já se tenha chegado a um acordo entre o BCE e as autoridades irlandesas, afirmando apenas que os membros do conselho de governadores "tomaram nota das decisões do Governo irlandês e do seu banco central sobre a matéria". Futuras decisões ainda vão ser tomadas, disse.
Em relação à polémica em Itália, que atinge Draghi porque ele era governador do Banco de Itália entre 2006 e 2011, o período em que o Monte dei Paschi realizou operações com derivativos que resultaram em perdas de aproximadamente mil milhões de euros, o presidente do BCE deu explicações que devem ter parecido bastante familiares a Vítor Constâncio, que estava ao seu lado na conferência de imprensa. Draghi defendeu que o Banco de Itália "fez o que tinha a fazer quando tinha que o fazer", lembrou que foi ele próprio quem accionou as duas inspecções feitas ao banco e disse que "quando existe uma fraude, os supervisores não têm poderes policiais, fazem apenas supervisão".