BCE anuncia que taxas não vão subir durante muito tempo

Pela primeira vez na sua história, o banco central compromete-se com a evolução das taxas de juro para o futuro.

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Mario Draghi prometeu taxas no mínimo durante mais tempo Johannes Eisele/AFP

Desde que o BCE foi criado, os seus presidentes sempre responderam aos jornalistas que "o banco nunca se compromete" em relação ao rumo futuro das taxas de juro. Mas hoje, imitando o que foi feito recentemente pela Reserva Federal e, também hoje, pelo Banco de Inglaterra, o BCE passou a definir um guia para o futuro (forward guidance). "O conselho de governadores espera que as taxas de juro do BCE permaneçam nos níveis actuais ou a um nível baixo por um período longo de tempo", afirmou Mario Draghi.

Esta mudança da estratégia de comunicação é justificada pelo presidente do BCE pela actual conjuntura, tanto ao nível da inflação, como do crescimento e dos mercados monetários. Em particular, o baixo nível actual da inflação e as expectativas de evolução de preços no futuro foram referidos por Draghi como a principal justificação para que o banco passe agora a arriscar um compromisso em relação à evolução das taxas de juro.

Deste modo, apesar de na reunião desta quinta-feira não ter sido feito qualquer corte nos juros (a principal taxa de financiamento ficou nos 0,5%), o BCE deu aos mercados uma forte garantia de que a sua política vai ser, nos próximos tempos, de carácter expansionista. Os bancos que se financiam no BCE ficam com uma garantia de que, por muito tempo, vão ter no banco central uma fonte de crédito barata.

A mudança de estratégia de comunicação é assim uma forma de o BCE conseguir os seus objectivos (melhorar a concessão de crédito, principalmente em alguns países da Europa) sem ter de tomar novas medidas, como descidas de taxas de juro ou intervenções directas nos mercados. Ainda assim, segundo Draghi, a hipótese de novos cortes nas taxas foi "muito discutida" na reunião do conselho de governadores, do qual fazem parte Vítor Constâncio, vice-presidente do BCE, e Carlos Costa, governador do Banco de Portugal.

Esta decisão acontece depois de nas últimas semanas os mercados financeiros mundiais terem reagido de forma muito negativa ao anúncio da Reserva Federal de que poderia começar a reduzir o volume das suas compras de obrigações no mercado a partir do final deste ano. Esta "saída" da Fed provocou quedas nas bolsas e subidas das taxas de juro da dívida pública. A Fed tentou, mais tarde, um recuo e esta quinta-feira de manhã o Banco de Inglaterra também anunciou um prolongamento da sua política de apoio à economia. Esta quinta-feira ao início da tarde foi a vez do BCE. "A nossa saída está muito distante", reforçou Mario Draghi.

Os mercados financeiros já reagiram a este anúncio do BCE com uma queda do euro e uma subida nas bolsas.
 
 

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