Assunção Cristas quer novo impulso na aquacultura para diminuir importação de peixe

Segundo a ministra, trata-se de "uma aposta relevante para o país", que consome, em média, três vezes mais peixe do que os outros países europeus.

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Empresa fez um avultado investimento de aquacultura em Mira ADRIANO MIRANDA

Assunção Cristas falava aos jornalistas à entrada para o seminário Aquacultura e Pescas, Oportunidades de Negócio, Portugal-Brasil, que decorre na Universidade de Aveiro e que conta igualmente com a participação do ministro da Pesca e Aquicultura do Brasil, Marcelo Crivella.

"Para nós, é tão importante [a aquacultura] que, num Orçamento do Estado restritivo, temos tudo o que é necessário para executar bem os fundos de apoio ao investimento na área do Promar. Negociamos com a Comissão Europeia podermos apoiar o Aquiseguro [seguro bonificado para a aquicultura], através dos fundos europeus, e conseguimos também estender o gasóleo colorido ("gasóleo verde") a uma série de embarcações de suporte à aquacultura, que era algo que estava excluído", salientou.

Segundo a ministra, trata-se de "uma aposta relevante para o país", que consome, em média, três vezes mais peixe do que a média europeia. "Há uma margem de progressão que pode ser colmatada com a aquacultura. Importamos muito peixe por causa do desfasamento entre o que se pesca e o que se consome e a aquacultura é uma boa oportunidade para o país satisfazer o mercado interno", disse Assunção Cristas, que referiu que Portugal já importa produto da aquacultura de "muitas partes do mundo", pelo que "há uma margem grande para crescer na produção de peixe e de bivalves e de acrescentar valor através da indústria".

Projectos não faltam e sente-se um novo dinamismo no sector, avalia a ministra, dando conta de que o programa Promar já apoiou em 44 milhões de euros "variadíssimos projectos de aquacultura" e, "só no período de pouco mais de um mês, no Algarve, entraram 11 novos projectos apara aquacultura em mar aberto (off-shore).

Questionada sobre o empreendimento da Pescanova em Mira, que tem estado inactivo, a ministra disse que tem "trabalhado intensamente com o grupo galego" para viabilizar aquele projecto, mas não através de financiamento junto do Estado português, porque "esse apoio já foi dado". E considerou "muito importante para o país" que a unidade de Mira da Pescanova volte a produzir: "Houve um problema de projecto de base nesse investimento que implicou, a dada altura, a pararem para fazerem os arranjos do ponto de vista técnico e das infraestruturas, e a informação que temos é que estão a preparar-se para voltar a produzir, o que é muito importante para o país, porque foi um projecto grande e é positivo que possa voltar a dar resultados". 

Brasil procura tecnologia em Portugal
O ministro brasileiro da Pesca e Aquicultura, Marcelo Crivella, disse, por sua vez, que o Brasil quer atingir a produção de 20 milhões de toneladas de pescado por ano, para o que pretende encontrar parceiros em Portugal e na Europa.

"Queremos encontrar parceiros que tenham tecnologia e que nos possam ajudar a chegar aos 20 milhões de toneladas de produção de pescado por ano, que é o potencial do Brasil. Portugal e a Europa, pela pequena quantidade que têm de água, acabam por fazer produções intensivas com tecnologias que facilitam a produção", disse o ministro brasileiro, referindo-se à aquacultura em água doce.

"No gado, somos os maiores do mundo, mas agora queremos dar prioridade ao peixe. O Governo reduziu os impostos, criou de maneira enérgica o programa Safra para financiar o sector, e também descomplicou o licenciamento ambiental, coisa que na Europa é muito difícil", disse Marcelo Crivella, que apresentou mesmo a simplicidade do licenciamento ambiental como um dos principais argumentos: A Europa tem pouca água e o licenciamento ambiental fica muito difícil. O Brasil tem muita água e pode utilizar uma pequena quantidade para produzir muito peixe, sem descuidar a biodiversidade e essa é a grande vantagem do Brasil, que dispões de clima e óptimas espécies".