Apple e IBM juntam-se para levar iPhone e iPad ao mercado empresarial

As duas companhias planeiam disponibilizar no Outono 100 aplicações destinadas a profissionais.

Foto
Tim Cook decidiu abraçar o mercado empresarial Robert Galbraith/reuters

As duas multinacionais vão criar aplicações que assentam nos serviços que a IBM já disponibiliza aos clientes empresariais, permitindo aos utilizadores recorrer aos aparelhos da Apple para tarefas específicas relacionadas com a sua actividade profissional e que vão para além do email, agenda e outras funcionalidades básicas – isto incluirá o tipo de análise de dados que é crucial para muitos negócios.

O plano passa por ter cerca de 100 aplicações disponíveis no Outono. Os presidentes executivos da IBM e da Apple, Virginia Rometty e Tim Cook, numa entrevista conjunta dada à televisão americana CNBC, deram os exemplos de um agente de seguros a usar as novas ferramentas para fazer análises de risco para um potencial cliente e de um piloto de aviões a calcular o gasto de combustível e trajectos de voo em diferentes condições atmosféricas.

Ao abrigo do acordo, a IBM vai também actuar como uma força de venda dos aparelhos da Apple junto das empresas, prestando apoio técnico no local – o tipo de serviço que a Apple aprimorou para os consumidores nas suas conhecidas lojas. Os detalhes financeiros da parceria não foram revelados.

“Em 84 eramos concorrentes. Em 2014, não creio que seja possível encontrar duas empresas mais complementares”, afirmou Tim Cook, que trabalhou 12 anos na IBM no início da carreira, tendo saído em 1994. O executivo notou ainda que a penetração da Apple no mercado empresarial é relativamente pequena e que a margem para crescimento é muito grande.
Há 30 anos, estava a emergir a era dos computadores pessoais e as duas empresas eram concorrentes no fabrico de PC e disputavam um mercado prestes a explodir. A IBM era então um gigante e a Apple uma empresa muito mais pequena.

Hoje, a Apple ainda vende os computadores Mac, mas estes são apenas 13% das receitas totais, de acordo com o relatório anual de 2013, ao passo que o iPhone e o iPad, somados, representam 72% das vendas. Por seu lado, a IBM retirou-se do mercado dos computadores pessoais há quase dez anos, quando vendeu o negócio à chinesa Lenovo, a mesma que no início deste ano comprou a divisão de servidores empresariais da multinacional americana. A IBM centra-se hoje em vários produtos e serviços para empresas.

“A necessidade da Apple desenvolver um mercado empresarial para os iPhones é imperativa – e o mesmo se aplica aos iPads, ainda que com menos premência”, escreveu o analista da IDC John Delaney, explicando que, com os mercados dos países desenvolvidos já numa fase madura na adopção destes aparelhos, a Apple não poderia entrar nas economias emergentes sem criar iPhones mais baratos, “uma jogada a que tem resistido e que seria contrária à sua muito bem-sucedida estratégia de produto”. 

Já a IBM, diz o analista, beneficiará da pressão para a adopção dos seus serviços pelos departamentos de tecnologia das empresas, provocada pelo facto de estes poderem ser usados em aparelhos que muitos funcionários já têm e com os quais estão familiarizados.

A aliança representa um desafio para a Microsoft, que sob a alçada do novo presidente executivo, Satya Nadella, está a tentar reposicionar-se, com a estratégia de deixar de ser uma produtora de software para se tornar uma empresa focada em fornecer dispositivos e serviços. 

“Esta parceria pode ser um problema para a Microsoft, com a sua estratégia do Azure [a plataforma de cloud computing para empresas] e da Nokia”, observa o professor da Warwick Business School, Mark Skilton, numa nota enviada ao PÚBLICO. “Ao tentar jogar tanto no campo dos dispositivos móveis como dos serviços na cloud, a Microsoft pode não ser conseguir ser muito boa no mercado do consumo e no mercado empresarial.”

Skilton refere também que o Google poderia ser um parceiro alternativo para a IBM, já que o sistema Android tem uma presença forte no mercado empresarial, mas argumenta que essa seria “uma aliança estrategicamente mais difícil”, dado que o Google tem serviços e aplicações para empresas que poderiam competir com os da IBM. 

Sugerir correcção
Comentar