Jorge Armindo compra fábrica de cerveja Cintra
O empresário planeia aumentar a capacidade de produção já em 2008 e apostar na exportação
O empresário Jorge Armindo, 54 anos, anunciou, ontem, a aquisição da totalidade do capital da Drink In, empresa proprietária da fábrica de cervejas da marca Cintra, instalada em Santarém. Embora reconheça que o mercado cervejeiro português vive uma situação de "duopólio", com o domínio das marcas da Unicer e da Sociedade Central de Cervejas, Jorge Armindo acredita que há também lugar para a Cintra e que a sua marca pode conquistar mercado. O objectivo, menos ambicioso que o anunciado há anos pelo agora vendedor José Sousa Cintra, será atingir uma quota de sete a oito por cento no mercado português e avançar também na exportação, criando condições para aproveitar as infra-estruturas que a fábrica de Santarém já tem para um aumento da capacidade de produção.Jorge Armindo admite que esta é também uma aposta pessoal em que está a pôr em risco a sua credibilidade, mas confia que o projecto da Drink In tem pernas para andar, sobretudo porque dispõe de uma fábrica moderna, bons produtos e uma estrutura de pessoal - cerca de 150 funcionários - "racionalizada", que pretende manter.
Os dois empresários participaram ontem numa conferência de imprensa realizada nas próprias instalações da fábrica de Santarém. O negócio terá ficado concluído na véspera, culminando negociações que se terão iniciado há cerca de oito meses, na sequência de um contacto de Sousa Cintra. Esta possibilidade resulta também do facto de Jorge Armindo ser dono da Iberpartners, empresa vocacionada para a reestruturação e reorganização de empresas que foi chamada a acompanhar a evolução da Drink In, ultimamente confrontada com sérios problemas de colocação de cerveja no mercado, por quebras de procura e falhas de distribuição e de vasilhame. Como consequência, a fábrica parou a produção em vários períodos dos últimos meses e tem trabalhado a baixo ritmo nos restantes, gerando muita preocupação quanto ao seu futuro entre os trabalhadores, sindicatos e autarcas da região.
Apostar na diferençaJorge Armindo acha que o projecto da Drink In tem todas as condições para ser bem sucedido, mas admite que terá tido algumas falhas, sobretudo ao nível do marketing. "A Cintra chegou a ter quase cinco por cento de quota de mercado, mas foi caindo. Não vejo por que é que não pode voltar a ter", sublinha o empresário, vincando que será mais fácil recuperar a credibilidade desta marca do que lançar uma nova. Sousa Cintra chegou a apontar um objectivo de 15 por cento de quota de mercado, de que nunca se aproximou.
"Sou mais modesto. Gosto de trabalhar com prudência. Esta fábrica não precisa de ter mais de sete a oito por cento. Acredito no projecto e vamos desenvolvê-lo com humildade", garantiu Jorge Armindo, salientando que a marca Cintra vai procurar consolidar a sua posição apostando na "diferença" e na "confiança" e não seguindo uma política de marketing semelhante à das duas grandes empresas do sector. O objectivo será atingir uma produção anual de 600 mil hectolitros até final de 2007 e, a partir daí, aproveitar as condições já instaladas para investir no aumento da capacidade de produção. Ao mesmo tempo, Jorge Armindo pretende lançar também a marca Cintra no mercado de Angola, país onde o consumo de cerveja tende a crescer e onde o empresário já tem outros negócios.
Jorge Armindo diz que também já falou com os trabalhadores e que lhes prometeu que, "paulatinamente", a Drink In vai atingir os seus objectivos. O empresário disse ao PÚBLICO que uma das suas condições para esta operação foi adquirir a totalidade do capital da Drink In - Sousa Cintra chegou a falar na possibilidade de uma parceria.
Sousa Cintra disse ao PÚBLICO que esta foi a melhor solução para a fábrica e que não sente nenhuma mágoa por se separar assim do projecto. "Continuarei sempre com a Cintra no meu coração e só quero o sucesso da marca Cintra, por todas as razões. Acredito no seu futuro e será sempre um filho meu, que espero que tenha o maior sucesso."
O antigo presidente do Sporting garante que todos os compromissos da Drink In foram sempre cumpridos, quer relativamente aos trabalhadores, à Segurança Social e ao fisco, quer relativamente à Câmara de Santarém e ao projecto de investimento apoiado pelo PEDIP. "Não há problemas com ninguém. Sempre tivemos tudo em dia", garantiu.
Jorge Armindo admite, no entanto, que vai contactar a Agência Portuguesa para o Investimento e o IAPMEI, porque algumas das metas do projecto, apoiado por fundos comunitários, não foram atingidas, pelo que pretende renegociar o seu cumprimento.
"Espero ter a compreensão das entidades competentes. Estamos a manter uma unidade industrial que tem cerca de 150 trabalhadores, o que não é despiciendo", concluiu.