Conselho de supervisão da EDP inclina-se para os chineses e alemães na privatização

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Brasileiros não respeitaram caderno de encargos Filipe Arruda

Parecer entregue à Parpública não é vinculativo, mas defende que a E.On e a China Three Gorges apresentam maiores complementaridades com o projecto da empresa portuguesa

A China Three Gorges e a alemã E.On são os concorrentes escolhidos pelo conselho geral e de supervisão da EDP, que ontem entregou à Parpública o parecer não vinculativo sobre as quatro propostas de compra dos 21,35% do Estado na eléctrica portuguesa.

A preferência por estes dois concorrentes por parte do órgão que representa os accionistas da EDP - em detrimento das brasileiras Eletrobras e Cemig - acontece porque defendem que tanto a E.On como a China Three Gorges apresentam mais complementaridades face ao projecto da empresa, indicou ao PÚBLICO uma fonte conhecedora do processo.

Na opção pelo grupo chinês, responsável pela construção e operação da barragem das Três Gargantas, a maior do mundo no rio Yangtze, terá sido decisivo o facto de os chineses oferecerem financiamento para a EDP prosseguir com o seu projecto, incluindo a internacionalização da empresa.

A eléctrica portuguesa tem investimentos importantes no Brasil e nos Estados Unidos, tal como em Espanha, em especial na energia eólica.

Por outro lado, de acordo com a mesma fonte, o conselho presidido por António de Almeida (do qual fazem parte 17 elementos) terá defendido que seria a empresa chinesa a oferecer mais independência à gestão da eléctrica portuguesa, uma vez que não concorrem nos mesmos mercados.

Já no que respeita à E.On, que tem investimentos em energia eólica nos EUA e noutros países onde está a EDP - mas de menor dimensão que a companhia portuguesa - a preferência terá sido justificada com a existência de complementaridades de projecto. A aposta nas renováveis e a entrada no Brasil são duas das prioridades estratégicas dos alemães. Outro ponto que terá jogado a favor do interesse germânico será considerar-se que "sabem do negócio".

Segundo a mesma fonte, os concorrentes brasileiros terão ficado de parte por não responderem na totalidade a questões do caderno de encargos ligadas ao financiamento e ao modelo de governação da EDP.

No caso da Eletrobras, terá tido também influência uma notícia publicada segunda-feira no brasileiro Valor Econômico, que afirma que a companhia e a Iberdrola, o accionista mais importante da eléctrica portuguesa (6,8%) a seguir ao Estado, terão formado uma aliança para tomarem conta da EDP. Fonte da Eletrobras negou ao PÚBLICO a existência desse acordo e referiu que a proposta da companhia brasileira é autónoma e visa manter a EDP independente. O projecto, acrescentou, é apostar na expansão da eléctrica portuguesa, aproveitando as complementaridades com a Eletrobras.

Fontes ligadas ao processo, citadas ontem pelo site do Diário Económico, afirmaram que a Eletrobras terá também o aval no relatório da Parpublica, ficando de fora apenas a Cemig. A decisão final do Governo será tomada depois de uma análise do processo pela comissão especial criada para acompanhar a privatização da EDP.

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