União Europeia quer reduzir desperdício alimentar para metade até 2025. O que temos que fazer para isso?
Há formas de reduzir as perdas de comida em Portugal - e o estudo Do Campo ao Garfo - Desperdício Alimentar em Portugal propõe algumas. Muito do trabalho terá de ser feito pelas famílias, mas há medidas que dependem do Estado, dizem os investigadores, lembrando que o Parlamento Europeu propôs que 2014 seja o Ano Europeu contra o Desperdício Alimentar e pediu à Comissão "medidas concretas destinadas a reduzir para metade o desperdício alimentar até 2025".
No consumo privado, o estudo faz algumas recomendações práticas, a partir das conclusões que tirou das entrevistas a 41 famílias. Os problemas identificados como causas directas do desperdício foram: não planear as refeições e não utilizar listas de compras; gestão pouco eficiente dos stocks de alimentos; não armazenar convenientemente; comprar produtos frescos e perecíveis que não são consumidos a tempo; deixar passar os prazos de validade. As recomendações são respostas directas: planeamento de compras e menus; informação sobre armazenamento; escolha de embalagens com a quantidade adequada; atenção aos prazos de validade.
"Uma grande componente deste projecto é a comunicação. Temos que pôr as pessoas a falar sobre o desperdício alimentar. Ninguém quer desperdiçar, mas às vezes fazemo-lo sem ter consciência disso", afirma Sofia Vaz, uma das responsáveis do estudo. Inês Campos, outra das autoras, lembra que já existem campanhas como a Love Food, Hate Waste, no Reino Unido. Quanto ao Estado, "não deve ter um papel central, mas sim um papel de facilitador", defende.
O estudo propõe a "revisão da política de subsídios [à produção agrícola] que, de certo modo, promove o desperdício". No passado, a Política Agrícola Comum "induziu o desligamento entre a oferta e a procura, com resultados que foram nalguns casos verdadeiramente catastróficos". Com a negociação da nova PAC surge a "oportunidade para integrar o objectivo da redução do desperdício", alterando os mecanismos de apoio.
É também importante "investir numa cadeia de proximidade entre o produtor e o consumidor", através de incentivos ao comércio local e a mercados como alternativas à grande distribuição. Ligada a isso está a adequação da oferta às necessidades dos consumidores: embalagens mais pequenas e venda de produtos não embalados.
Por fim, o estudo defende a necessidade de regras mais flexíveis, que permitam a venda, doação e aproveitamento de alimentos que possam ser menos bonitos, menos homogéneos, mas que são, apesar disso, bons para o consumo. Isso já está a acontecer com alguns projectos existentes em Portugal, como o Dariacordar ou o Refood, de reaproveitamento de refeições, que irão estar presentes numa mesa-redonda sobre desperdício alimentar quinta-feira, a partir das 15h, na Fundação Gulbenkian, em Lisboa.