Procurador recorda pressões no caso do padre Frederico
A sentença teve direito a transmissão directa pela televisão. A 10 de Março de 1993, o padre Frederico Marcos Cunha foi condenado a 13 anos de prisão pelo homicídio de Luís de 15 anos e pela tentativa de assédio sexual do menor. Ainda hoje, 17 anos passados, não há memória de outra condenação por crimes sexuais envolvendo sacerdotes em Portugal.
"As posições extremaram-se. Quase que parecia um Benfica-Porto. Muita gente tomou posição sem conhecer o processo. Mas para mim não era a Igreja que estava a ser julgada, mas uma pessoa. Por isso, sempre fiz ques- tão de o tratar por senhor Frederico Marcos e não por padre Frederico", recorda o procurador João Freitas, que há 18 anos acompanhou a investigação e o julgamento.
João Freitas recorda que a condenação foi confirmada por todas as instâncias superiores. Mesmo assim, não esquece que havia quem não quisesse a condenação. "Fui vítima de muitas pressões, vindas de muitos quadrantes, não só da Igreja", afirma o magistrado, que se assume como católico praticante.
Apesar de na memória de magistrados e inspectores estes casos rarearem, numa tese de doutoramento conhecida esta semana, o investigador Pedro Pombo faz referência a dez inquéritos por abusos sexuais de menores envolvendo padres que foram abertos pela Polícia Judiciária entre 2003 e 2007. Pedro Pombo desconhece o desfecho de cada inquérito e a Procuradoria-Geral da República também.
Na memória, só um outro caso, em 2000, que fez um padre subir à barra de um tribunal por uma acusação sexual. A investigação fora iniciada pela Inspecção-Geral de Segurança Social. O padre F.S. teria em 1997 tentado abusar de uma menina de 12 anos que fora internada no lar de Flor-de-Lis. Na hora de depor, já com 15 anos, a rapariga negou o abuso e o Tribunal de Leiria absolveu o presbítero.
Há ainda registo de outros dois ca- sos, que terminaram arquivados, antes do julgamento: um em Aveleda, em 1994,quando o pároco J.C. foi suspeito de abusar de um menor de 12 anos, e o outro em 2003, no Centro Social e Paroquial de Vila Marim, com a suspeição de que o padre Z.B. teria abusado de um rapaz de 12 anos.