Confrontos regressam a Teerão depois das notícias da prisão de líderes da oposição
Duas semanas depois voltou ontem a haver confrontos em Teerão. Grupos de manifestantes - a proibição oficial impede a imprensa estrangeira de apurar quantos - saíram à rua para exigir a libertação de Mir-Hossein Mousavi e Mehdi Karroubi, os líderes da oposição que o regime apenas admite manter incontactáveis em casa.
Os protestos estão proibidos e a justiça iraniana tinha avisado que "quem quer que infringisse a lei iria responder pelos seus actos" depois de na véspera terem corrido na Internet apelos a uma nova manifestação. Logo pela manhã, contou o correspondente da BBC em Teerão, Mohsen Agsari, o centro da cidade foi tomado pelas forças antimotim e pelos bassijis, os milicianos leais ao regime.
Mas o forte aparato não impediu a repetição dos protestos, junto à Universidade de Teerão e nas imediações da Praça Azadi (Liberdade), ponto de convergência das manifestações contra a contestada reeleição, em 2009, do presidente Mahmoud Ahmadinejad. O site Sahamnews, ligado a Karroubi, referiu "milhares de manifestantes", enquanto o Kaleme.com, próximo de Mousavi, falou "num grande número de pessoas".
A polícia e os milicianos não tardaram a intervir, dispersando os grupos à bastonada e com granadas de gás lacrimogéneo, contou a oposição, denunciando os "ataques maciços e particularmente violentos" da milícia.
Ao início da noite, Agsari contava que, depois dos confrontos, as forças de segurança tinham recuperado por completo o controlo das ruas. Foram noticiadas várias detenções, mas a informação não foi oficialmente confirmada, já que o Governo negou qualquer incidente na capital.
Estes são os primeiros protestos em Teerão desde dia 14, quando, após um ano em silêncio, voltaram a sair à rua, incentivados pelo sucesso da revolta no mundo árabe. O desafio levou o regime a subir de tom - da ala conservadora levantaram-se vozes pedindo a pena de morte para os "líderes da sedição". Impedidos de sair de casa, Karroubi e Mousavi estão desde a semana passada totalmente incomunicáveis e, na segunda-feira, a oposição anunciou que teriam sido transferidos para uma prisão na região de Teerão, juntamente com as respectivas mulheres. O procurador-geral iraniano, Mohseni Ejeie, garantiu ontem "que as informações avançadas por certa imprensa inimiga são falsas", mas os familiares dos dois opositores insistem que não há ninguém nas duas casas.
A notícia das detenções foi criticada no Ocidente - Washington considerou-as "inaceitáveis", Paris e Berlim pediram o seu fim imediato -, mas o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros iraniano garantiu que "se trata de questões internas, nas quais nenhum país estrangeiro tem direito de intervir". A.F.P.