O Mundial dos atrasos corre contra o tempo

Aeroportos e redes de telemóvel e Internet são as maiores preocupações.

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Obras no aeroporto de Guarulhos, em São Paulo Paulo Whitaker/Reuters
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Obras no aeroporto de Guarulhos, em São Paulo Chico Ferreira/Reuters
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O estádio de Cuiabá é um dos que estão atrasados Joel Marcos/Reuters
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O Itaquerão de São Paulo é outro Paulo Whitaker/Reuters
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E a Arena da Baixada, em Curitiba, é outra Roldofo Buhrer/Reuters

A lentidão na organização não é algo novo no Brasil e o Carnaval é muitas vezes utilizado como referência. O escritor Ruy Castro recorda ao PÚBLICO os atrasos na organização da Conferência da ONU no Rio de Janeiro em 1992. “A um mês do início dos trabalhos, não tinha nada pronto. O chefe da ONU no Rio dizia que ‘o Brasil é uma bagunça’. E a minha mulher, que era chefe de imprensa, dizia: ‘Tenha calma. Você já foi a algum desfile de escola de samba? Faltando 15 minutos para a escola entrar em cena, é uma bagunça, ninguém se entende, está tudo desorganizado. Aí, de repente, chega a hora, alguém apita e a escola sai linda para a rua’. Ele ficava furioso por comparar a ONU com a escola de samba, mas no Brasil é tudo a mesma coisa.”

A um mês do início da prova, a organização do Mundial cada vez mais espera um efeito carnavalesco que apague todos os problemas e atrasos, algo inexplicáveis em quem teve sete anos para organizar a competição. Mas a incerteza mantém-se até ao último minuto. O Itaquerão, estádio da abertura, foi inaugurado na quinta-feira por Dilma Rousseff, mas está longe de estar terminado. As bancadas ainda não estão prontas, faltam cadeiras e muito cabos estão por instalar. O mesmo acontece na Arena Pantanal, em Cuiabá (onde, na quinta-feira, morreu mais um trabalhador), e na Arena da Baixada, em Curitiba, mais dois estádios que vão ser entregues com mais de cinco meses de atraso.

A FIFA já reconheceu que reduziu as exigências, para não atrasar ainda mais a entrega dos recintos, e Jêrome Valcke admitiu que viveu “um inferno”: “Sobretudo porque no Brasil há três níveis políticos”, explicou o secretário-geral da FIFA, para quem o Mundial não é comparável ao Carnaval. “Lembro-me que me diziam: ‘Como pode duvidar do Brasil? Nós organizamos o Carnaval do Rio todos os anos, com três milhões de pessoas.’ Mas no Carnaval são muitas pessoas do Rio e que têm os seus apartamentos lá. As pessoas achavam que era fácil organizar o Mundial”, criticou Valcke.

Mesmo depois de a estrutura dos estádios estar pronta, há muito trabalho a fazer. Em Fevereiro, quando o PÚBLICO visitou o estádio de Manaus, o responsável da organização estava preocupado com toda a questão das comunicações, que exige tempo para instalar cabos e fazer testes, seja para as transmissões televisivas, seja para a rede de Internet. A prioridade total da organização é para as transmissões televisivas, essenciais para o sucesso da competição.

E na rede de telemóveis e Internet há igualmente atrasos substanciais. Até o ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, já admitiu que será muito difícil oferecer um serviço de boa qualidade em vários estádios.

O Brasil, aliás, tem um histórico de dificuldades nas redes de telecomunicações, que, na era das redes sociais, serão pressionadas pela chegada de 600 mil turistas. Teme-se a repetição do que se passou na final da Taça das Confederações, em 2013, quando muitos adeptos no Maracanã chegaram ao fim do jogo sem bateria (porque os telefones passaram o tempo à procura de rede) e outros não conseguiram enviar mensagens, por causa do congestionamento da rede.

Ainda antes de experimentarem estádios e telecomunicações, os adeptos estrangeiros vão sujeitar o Brasil a um dos grandes testes do Mundial: os aeroportos podem ser decisivos para marcar o tom. E o panorama, para já, não é animador. Ainda há muitas obras a decorrer nos aeroportos das 12 cidades-sede. Fortaleza vai usar um terminal provisório, Belo Horizonte não terminará as obras a tempo, em Guarulhos (São Paulo) apenas uma parte do novo terminal deverá estar a funcionar. “Vários aeroportos vão ter de recorrer a planos de contingência”, disse à Reuters Carlos Ozores, consultor de aviação.

Com tantos atrasos e potencial para correr mal, a maior esperança do Brasil é que se confirme que organizar um Mundial é um mês de felicidade, resume Ruy Castro. “No meio da desorganização, de repente as coisas se arranjam espontaneamente. Ou então não, mas o que tem em volta — o céu, a luz, o calor, o sol, as mulheres, a comida — cria uma atmosfera muito positiva e as pessoas esquecem os defeitos.”

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